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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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M a r g a r i D a a l V e S : C o l e t â n e a S o B r e e S t u D o S r u r a i S e g ê n e r o<br />

fazem de uns tempos para cá, como se apresentam na feira e como apresentam o<br />

produto para que tenha maior aceitação e garanta a renda familiar.<br />

No processo de inserção social e econômica das assentadas é preciso destacar<br />

alguns elementos que concorrem para a emergência de uma nova identidade:<br />

as mulheres <strong>do</strong> beiju. O primeiro diz respeito à iniciativa de produzirem, principalmente<br />

o beiju, para comercializarem na feira. Soma-se a este, a capacidade<br />

e criatividade demonstrada para produzirem e comercializarem, cuidan<strong>do</strong> da<br />

apresentação e qualidade <strong>do</strong> produto. Além desses, e certamente de fundamental<br />

importância para lhes assegurar o lugar e reconhecimento que desfrutam na feira<br />

como as mulheres <strong>do</strong> beiju é a sensibilidade e capacidade de testarem e atenderem<br />

o gosto da freguesia.<br />

Nesse contexto de mudanças econômicas, sociais e culturais é preciso indagar<br />

se efetivamente as relações se tornam menos discriminatórias e mais igualitárias<br />

da perspectiva de gênero. No cotidiano das assentadas há indicativos de uma<br />

sobrecarga de trabalho e responsabilidades, sem a devida correspondência em<br />

termos de participação nas políticas de apoio à produção.<br />

Para compreender esse contexto torna-se imperativo colocar em foco a unidade<br />

familiar constitutiva da dinâmica relacional <strong>do</strong> assentamento, tradicionalmente<br />

entendida como unidade de produção e consumo, composta por pessoas ligadas<br />

por laços de parentesco, poden<strong>do</strong> coincidir ou não com o local de residência de<br />

seus integrantes (Heredia, 1979).<br />

A unidade familiar configura um espaço regi<strong>do</strong> pela divisão sexual <strong>do</strong> trabalho<br />

que tem si<strong>do</strong> naturalizada, impon<strong>do</strong> e reproduzin<strong>do</strong>-se, de mo<strong>do</strong> a encobrir os<br />

elementos que lhe são constitutivos. Tradicionalmente tem si<strong>do</strong> atribuí<strong>do</strong> à mulher<br />

o papel reprodutivo cujas atividades não são consideradas trabalho geran<strong>do</strong> a desvalorização<br />

das atividades reprodutivas, e a invisibilidade <strong>do</strong> trabalho produtivo.<br />

Essa situação que conforma as relações na agricultura familiar integra uma<br />

lógica que tem raízes na racionalidade instrumental da sociedade moderna assente,<br />

entre outros, nos binômios: natureza/cultura; priva<strong>do</strong>/público; reprodução/consumo<br />

versus produção/merca<strong>do</strong>. Estes possuem caráter sexista, pois a<br />

cada um <strong>do</strong>s pólos corresponde de mo<strong>do</strong> valorativo e hierárquico, o feminino<br />

ou o masculino, com a pre<strong>do</strong>minância <strong>do</strong> pólo associa<strong>do</strong> ao masculino. A discriminação<br />

e a opressão de gênero, geradas por essa lógica têm si<strong>do</strong> renovadas e<br />

modernizadas ao longo da história.<br />

No cotidiano <strong>do</strong> assentamento tais polaridades e outras semelhantes se fazem<br />

presentes na dinâmica da unidade familiar de produção onde homens e<br />

mulheres reproduzem a divisão sexual <strong>do</strong> trabalho fundada nas diferenciações<br />

de gênero. Essa dinâmica tem comprova<strong>do</strong> que o feminino não somente é desvaloriza<strong>do</strong>,<br />

como também ocupa lugar de subordinação na hierarquia de poder.<br />

Assim, torna-se compreensível quan<strong>do</strong> Scott (1995: 88) se refere ao gênero como…<br />

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