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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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20<br />

n e a D e S p e C i a l<br />

<strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s difere entre homens e mulheres. Entre os jovens homens nãovirgens,<br />

a idade da primeira relação varia entre 11 e 14 anos, a das jovens mulheres<br />

entre 14 e 15 anos. Em outro aspecto os depoimentos de homens e mulheres se<br />

assemelham, pois ambos relatam como parceria de sua primeira relação sexual<br />

mora<strong>do</strong>res da localidade ou circunvizinhança.<br />

Os depoimentos evidenciam que as trajetórias de iniciação afetivo-sexuais<br />

seguem lógicas distintas segun<strong>do</strong> gênero. Entre os homens, a primeira relação<br />

parece configurar-se como um marco de afirmação da sua masculinidade. As<br />

narrativas masculinas foram mais pontuais <strong>do</strong> que as femininas, isto é, os jovens<br />

homens contavam rapidamente os fatos e não abordavam detalhes que contextualizassem<br />

a relação; ao contrário, as narrativas femininas indicavam mais detalhadamente<br />

a circunstância e os sentimentos envolvi<strong>do</strong>s nas relações, sugerin<strong>do</strong><br />

que o fato era convenientemente narra<strong>do</strong> ao ser acompanha<strong>do</strong> de sentimentos<br />

afetivos para além da prática sexual.<br />

Nos relatos masculinos, verificou-se também uma associação da sexualidade<br />

com o desempenho diante <strong>do</strong>s colegas. <strong>Alves</strong> (2003), em seu estu<strong>do</strong>, ressalta a<br />

importância <strong>do</strong>s pares na construção da masculinidade. A situação descrita como<br />

“daí ele ficou com uma e eu com a outra” foi uma constante nos relatos <strong>do</strong>s jovens<br />

homens. Nos relatos femininos, as interferências aparecem mais como estímulos<br />

e como comunhão de valores e práticas que identificam as jovens mulheres com<br />

seu grupo de pares.<br />

Entre os jovens assenta<strong>do</strong>s, tanto homens quanto mulheres, percebemos uma<br />

vinculação com a noção de aprendizagem, porém com ênfases distintas: se para<br />

a mulher é o sentimento de me<strong>do</strong> que marca o início dessa trajetória, para os homens<br />

é a idéia de festa. No estu<strong>do</strong> de Monteiro (1999), <strong>do</strong>r e me<strong>do</strong> foram manifesta<strong>do</strong>s<br />

por grande parte das entrevistadas com relação à primeira relação sexual, o<br />

que se repetiu em nossas entrevistas. As informantes afirmaram que, nas relações<br />

seguintes, sentiram-se mais tranqüilas, indican<strong>do</strong> o caráter da experiência sexual<br />

como uma aprendizagem na trajetória de iniciação sexual.<br />

A forma como os jovens assenta<strong>do</strong>s se manifestam sobre o tema da virgindade<br />

é outro item fundamental para compreendermos sua iniciação sexual. Conforme<br />

Abramovay (et al, 2004:73), “a virgindade ainda é um marco na diferenciação <strong>do</strong>s<br />

gêneros na cultura brasileira. Ela vem sen<strong>do</strong> re-significada frente a novos discursos,<br />

mas permanece uma referência que norteia comportamentos e delimita atitudes.”<br />

Jovens entrevista<strong>do</strong>s, homens e mulheres, declaram que a virgindade é importante<br />

somente para o universo adulto, mas não para eles. No entanto, a pesquisa demonstrou<br />

que se trata de normas que os jovens, em certa medida, interiorizam.<br />

Entre os informantes entrevista<strong>do</strong>s, os que se declararam virgens não explicitaram<br />

intenção de manterem-se até o casamento, dizem apenas aguardar a hora e<br />

o parceiro certos. Esta lógica – de esperar pelo momento certo – também foi consta-

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