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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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M a r g a r i D a a l V e S : C o l e t â n e a S o B r e e S t u D o S r u r a i S e g ê n e r o<br />

acompanha<strong>do</strong> por mudanças no mo<strong>do</strong> de se apresentarem, incluin<strong>do</strong> o mo<strong>do</strong> de<br />

se vestir e se cuidar.<br />

Assentada: Hoje não, nós se for possível nós resolve uma coisa no banco, no sindicato,<br />

é numa loja. (…) E mesmo também (…) o jeito da gente viver assim sobre o vestir. A<br />

gente era difícil (…) A gente não vestia mais assim, uma roupa que usava no modelo,<br />

era assim esquisito. Hoje Graças a Deus to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> anda na… com umas roupinha<br />

de modelo. (risos) Tá uma maravilha. A gente acha. (…) Então a gente trabalha. Mas<br />

a bem verdade, na hora que a gente vai sair a gente tem mais cuida<strong>do</strong> com o corpo da<br />

gente… (risos).<br />

Entre tantas mudanças, a principal novidade destacada pelas mulheres é o<br />

fato de descobrirem que são trabalha<strong>do</strong>ras rurais. Nas entrevistas, as assentadas<br />

se referem a um novo tempo em que descobriram, passaram a entender, passaram<br />

a ser trabalhadeira rural.<br />

Essa novidade não se limita à informação e conhecimento sobre os direitos das<br />

mulheres trabalha<strong>do</strong>ras rurais como aposenta<strong>do</strong>ria e salário maternidade. Tratase<br />

de um amplo processo pessoal e coletivo com forte expressão intersubjetiva<br />

que tem na sua base a experiência de participação e no qual é possível identificar<br />

<strong>do</strong>is movimentos que se articulam reciprocamente. O primeiro mobiliza emoções,<br />

sentimentos e novas subjetividades, alcançan<strong>do</strong> e transforman<strong>do</strong> os mo<strong>do</strong>s de<br />

sentir, pensar e agir, individual e coletivamente. O outro enseja a construção e<br />

compartilhamento de novos significa<strong>do</strong>s sobre o trabalho da mulher, sobre suas<br />

capacidades, favorecen<strong>do</strong> a mobilização de recursos para iniciativas coletivas e<br />

alterações na dinâmica das relações de gênero.<br />

Assentada: Nós fazia tu<strong>do</strong> quanto há, porque desde o princípio nós fazia esse serviço<br />

tu<strong>do</strong>. Nós mexia com roça, nós plantava mandioca, nós fazia beiju, fazia farinha, toda<br />

vida. Mas nós também não entendia que nós era trabalhadeira rural. (risada)<br />

Assentada: Oh moça, a gente era boba. Que a gente ficava na roça, não sabia o que<br />

era trabalha<strong>do</strong>ra, morria de trabalhar e não sabia, não mexia com sindicato, não sabia o<br />

que era a pessoa trabalhar. Não sabia não. Pra mim trabalhava e por lá mesmo acabava,<br />

não tinha valor nunca. Não tinha valor nunca. (…) Eu não sabia o que eu era não. Não<br />

sabia não. (…) Era diferente, cento por cento diferente, não saía pra feira, não saía pro<br />

comércio, não comprava nada, não vendia… era só dentro de casa com a filharada. To<strong>do</strong><br />

ano um filho, to<strong>do</strong> ano um filho e era desse jeito ten<strong>do</strong> que ficar ali com a filharada.<br />

Nas palavras das assentadas o trabalho em si não alterou, mas sim o entendimento<br />

sobre a sua condição de trabalha<strong>do</strong>ra rural, sua autovalorização e a conquista<br />

<strong>do</strong> que, em várias ocasiões, elas se referiram como libertação: liberdade para<br />

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