Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário
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n e a D e S p e C i a l<br />
Foge aos meus objetivos no momento, examiná-las todas; entretanto, quero<br />
pontuar como as participantes <strong>do</strong> Movimento vão estabelecen<strong>do</strong> essas relações.<br />
Uma das características é que as mulheres simultaneamente constroem diferentes<br />
vínculos, ‘cavam’ e mapeiam novos espaços e lugares. Entretanto, isso não ocorre<br />
de forma linear, nem tampouco há o cumprimento de etapas predeterminadas.<br />
Em nível estadual e nacional, por exemplo, a articulação é construída no interior<br />
<strong>do</strong> movimento sindical, na criação de secretarias e coordenações nos sindicatos,<br />
nas federações e na Confederação. Data dessa fase a realização de três<br />
seminários nacionais de mulheres trabalha<strong>do</strong>ras rurais, organiza<strong>do</strong>s pela Contag.<br />
No primeiro (1988) é elabora<strong>do</strong> um <strong>do</strong>cumento envia<strong>do</strong> aos constituintes, reivindican<strong>do</strong><br />
a inclusão de direitos para as trabalha<strong>do</strong>ras rurais.<br />
Já no âmbito regional, o investimento é na criação de um movimento autônomo<br />
de mulheres trabalha<strong>do</strong>ras rurais, com atividades, mobilizações, projetos e<br />
financiamentos próprios. O Movimento de Mulheres Trabalha<strong>do</strong>ras Rurais <strong>do</strong><br />
Nordeste (MMTR-NE) se constitui como uma articulação de mulheres participantes<br />
de grupos e movimentos vincula<strong>do</strong>s a ONGs, pastorais da Igreja Católica<br />
e movimento sindical. Esse esforço de construção de uma articulação tão heterogênea<br />
aparece nas correspondências sob diversas versões.<br />
Uma outra característica é que as mulheres aproveitam a participação em<br />
eventos para criar e propagar os vínculos entre as trabalha<strong>do</strong>ras rurais. Posso citar<br />
como exemplo o III e o V Encontro Feminista Latino-Americano e <strong>do</strong> Caribe.<br />
Durante a preparação <strong>do</strong> V Encontro (1990, em São Bernar<strong>do</strong>, Argentina), uma<br />
participante <strong>do</strong> Movimento propõe para a comissão organiza<strong>do</strong>ra uma oficina<br />
para trabalha<strong>do</strong>ras rurais intitulada Nuestras vidas e nuestras organizaciones. Participam<br />
da oficina, trabalha<strong>do</strong>ras rurais (oito) e assessoras <strong>do</strong> Brasil, Argentina,<br />
México, Uruguai, Nicarágua, Honduras, Peru, Bolívia e Chile. Dessa oficina sai a<br />
proposta de realização <strong>do</strong> 1 o Encontro de Trabalha<strong>do</strong>ras Rurais da América Latina<br />
e <strong>do</strong> Caribe e a criação de uma rede de intercâmbio entre os países. O Sertão<br />
Central é escolhi<strong>do</strong> para fazer a articulação.<br />
Fora os encontros e ações conjuntas, as mulheres apostam nos intercâmbios<br />
entre os grupos e os movimentos para fortalecer as relações entre elas. Denominadas<br />
de ‘troca de experiência’, essas atividades duram alguns dias e são realizadas<br />
entre os municípios <strong>do</strong> Sertão Central e/ou fora dele (Acre, São Paulo, Bahia,<br />
Sergipe e Paraíba). Também o Movimento recebe pequenos grupos de mulheres<br />
para conhecer ‘mais de perto os trabalhos’. As visitantes ficam hospedadas nas<br />
casas das trabalha<strong>do</strong>ras rurais, convivem com a população local e participam de<br />
eventos previamente prepara<strong>do</strong>s para esse fim.<br />
Além disso, as mulheres nutrem as relações com a troca de relatórios, fotografias,<br />
cartazes e cartilhas. O material produzi<strong>do</strong> circula entre os diversos grupos e<br />
serve de referência para novos contatos e articulações.