Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário
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M a r g a r i D a a l V e S : C o l e t â n e a S o B r e e S t u D o S r u r a i S e g ê n e r o<br />
a um conjunto mais vasto, cujos membros participam da mesma civilização, mas<br />
em cujo interior não seriam encontradas grandes variedades de subgrupos, já que<br />
neles a divisão de tarefas não é tão extensa. Portanto, para ela, no interior dessa<br />
unidade social, as relações <strong>do</strong>minantes entre os membros se caracterizariam como<br />
pessoais, diretas, afetivas, contrapon<strong>do</strong> este tipo de configuração social a um outro,<br />
a “sociedade” (impessoal, indiferente, contratual, urbano-centrada).<br />
Recuperan<strong>do</strong> a dança <strong>do</strong> Bumba-meu-boi como manifestação <strong>do</strong> teatro popular<br />
no Brasil, infere que essa dança folclórica defende valores tradicionais <strong>do</strong> grupo,<br />
uma espécie de pedagogia para inculcar determina<strong>do</strong>s hábitos seleciona<strong>do</strong>s. O controle<br />
social que se exerce no momento <strong>do</strong> festejo, visa, portanto, reforçar e revigorar<br />
comportamentos que são conformes à moral tradicional. Nesse contexto, os papéis<br />
femininos são representa<strong>do</strong>s por homens, reminiscências <strong>do</strong> tempo antigo em que<br />
era considera<strong>do</strong> “indecente” que a mulher representasse nas comédias.<br />
Ao discorrer sobre a divisão <strong>do</strong> trabalho sexual, a conduta sexualizada das<br />
camponesas e <strong>do</strong>s camponeses no Brasil, em investigação in locus, a autora apregoa<br />
que concernente ao padrão autoritário da decisão <strong>do</strong> homem, as mães educam os<br />
filhos desde pequenos, mas lhes inculcam os padrões de comportamento dita<strong>do</strong>s<br />
pelo pátrio poder. Em caso de desobediência grave, fazem queixa ao pai de família,<br />
que toma as providências necessárias. A autoridade familiar, para Pereira de<br />
Queiroz, é então claramente exercida pelo pai. Assim, embora não exista mais o<br />
padrão <strong>do</strong> pai escolher mari<strong>do</strong> para as filhas, o consentimento dele continuaria<br />
importante para que o enlace se realize ou não.<br />
Abrin<strong>do</strong> um parêntese, recobran<strong>do</strong> a personagem da mulher “man<strong>do</strong>na” como<br />
exceção <strong>do</strong> suposto modelo ideal molda<strong>do</strong> pelo pátrio poder, ou seja, aquela mulher<br />
camponesa que não manifestaria submissão com relação ao que o mari<strong>do</strong><br />
quer ou pede, mas impõe sua vontade, para Pereira de Queiroz, tu<strong>do</strong> isto pode<br />
ocorrer somente no caso de um mari<strong>do</strong> que “pula a cerca,” isto é, que se entrega<br />
a aventuras amorosas, poderia a mulher falar mais forte; o mari<strong>do</strong>, então, não<br />
teria autoridade e baixa a cabeça. Trata-se de uma espécie de “compensação” da<br />
mulher e de punição <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>, uma vez que este, de certo mo<strong>do</strong>, perde sua<br />
posição de proeminência.<br />
A mulher camponesa, para a autora, tem status de subordinação ao homem,<br />
principalmente ao pai, e em seguida ao cônjuge. Na sociedade camponesa, embora<br />
haven<strong>do</strong> divisão de tarefas segun<strong>do</strong> os sexos, a mulher acompanha o mari<strong>do</strong> ao<br />
campo; não haveria separação entre um universo masculino e outro feminino de<br />
trabalho, mas apenas um universo em que as tarefas masculinas e femininas são<br />
ora coincidentes, ora complementares.<br />
Eis a complementaridade da mulher camponesa. Uma mão-de-obra útil para<br />
o roça<strong>do</strong>, uma sexualidade para a reprodução em prol da perpetuação da espécie.<br />
Burlar com tal ideologia seria para o discurso público <strong>do</strong>s camponeses, e também<br />
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