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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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n e a D e S p e C i a l<br />

a praticar essa atividade. Atualmente, muitas têm quebra<strong>do</strong> em casa e recebem<br />

ajuda de seus mari<strong>do</strong>s/companheiros na tarefa de coleta <strong>do</strong> coco babaçu. Maria<br />

das N. <strong>do</strong>s Santos comenta sobre essa prática dizen<strong>do</strong> que “As vez eu quebro no<br />

mato, mas eu quebro mais em casa que no mato. O que a gente usa é um jacá pra<br />

pegar o coco no mato, tem vez que é na cabeça mesmo.” Às vezes, o cansaço é<br />

recompensa<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> o quilo <strong>do</strong> coco está acima da média, mas é sempre difícil<br />

carregá-lo para a realização da quebra em casa.<br />

Algumas mulheres chegam mesmo a não se identificar com a atividade fazen<strong>do</strong>-a<br />

apenas por necessidade, sem que haja um prazer ou satisfação, como<br />

Luciana Freitas: “Não é bom não, mas a gente não tem outro ganho, o ganho que<br />

a gente tem é só esse, aí a gente tem que quebrar […] porque eu quebro assim<br />

mesmo, mas não que eu gosto.” Josefa Silva também compartilha dessa mesma<br />

visão: “Meu Deus a gente quan<strong>do</strong> não tem <strong>do</strong> que viver, a gente arrisca a vida até<br />

morrer […] se eu achasse outro meio eu não queria mais quebrar coco, pra mim<br />

é muito sofri<strong>do</strong>.”<br />

Além das dificuldades citadas acima, o desânimo na realização <strong>do</strong> trabalho extrativo<br />

e a possível vergonha em praticá-lo estão relaciona<strong>do</strong>s com sua freqüente<br />

desvalorização. De to<strong>do</strong> mo<strong>do</strong>, a renda familiar fica abalada quan<strong>do</strong> as mulheres<br />

deixam de quebrar coco por motivos diversos, sen<strong>do</strong> os mais comuns relaciona<strong>do</strong>s a<br />

problemas de saúde, pois como o trabalho exige um esforço repetitivo, as quebradeiras<br />

geralmente sofrem de <strong>do</strong>res na coluna, por causa da posição em que se colocam<br />

para a quebra. Tratan<strong>do</strong> disso, Maria Carneiro diz que quebrar coco “Não é muito<br />

bom não, porque a gente passa ali o dia senta<strong>do</strong> direto, quan<strong>do</strong> não a gente passa o<br />

dia todinho andan<strong>do</strong>, mas a gente passa mais o dia senta<strong>do</strong>, dá uma <strong>do</strong>r nas costa.”<br />

De certa forma, a prática de quebra <strong>do</strong> coco é tomada como costumeira por<br />

esses trabalha<strong>do</strong>res rurais, como mostra Dalvanir de Jesus: “Eu não quebro mais,<br />

já interou ano que eu larguei de quebrar coco por problema de saúde, mas quan<strong>do</strong><br />

eu quebrava to<strong>do</strong> dia eu ia pro mato, só que eu não tô mais quebran<strong>do</strong>, mas a<br />

vontade é louca, quan<strong>do</strong> a gente tem aquele costume.”<br />

Das representações das palmeiras<br />

às relações de gênero<br />

Analisan<strong>do</strong> o universo de representações em torno <strong>do</strong>s babaçuais, identificamos<br />

que há no imaginário <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res de Monte Alegre a percepção da palmeira<br />

de babaçu como uma “mãe,” que dá sustento às pessoas que vivem da extração<br />

<strong>do</strong> coco. Para Josefa Silva, “[…] ela serve duma mãe porque eu chego debaixo de<br />

uma palmeira ela tá cheia de coco, eu pego esse coco, eu quebro esse coco, eu tiro<br />

o azeite, eu tiro as palha pra cobrir as casa, pra fazer o cofo pra juntar coco. Pra<br />

mim é mesmo que ser uma mãe.”

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