18.04.2013 Views

Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

M a r g a r i D a a l V e S : C o l e t â n e a S o B r e e S t u D o S r u r a i S e g ê n e r o<br />

Neste senti<strong>do</strong>, a noção de performance aparece como uma das bases de análise,<br />

uma vez que, de mo<strong>do</strong> mais recorrente, esta compreende “um acontecimento oral<br />

e gestual” obedecen<strong>do</strong> a regras que, simultaneamente, estão sen<strong>do</strong> demarcadas<br />

pelo tempo, o lugar, a finalidade da transmissão, a ação <strong>do</strong> locutor e resposta <strong>do</strong>s<br />

envolvi<strong>do</strong>s ou <strong>do</strong> público (Zumthor, 2000). Sobretu<strong>do</strong>, porque se está consideran<strong>do</strong><br />

a importância da oralidade para os mora<strong>do</strong>res de Rosário das Almas.<br />

Oralidade esta, fortemente influenciada e marcada de senti<strong>do</strong>s.<br />

O corpo transcende a rotina de corpo visto apenas como aparelho de trabalho,<br />

ou veículo que ultrapassa as fronteiras na procura de trabalho, mas, o corpo de que<br />

se fala também é corpo de festa, instrumento de prazer, de afetos e desejos. Porém,<br />

há um hiato que repousa numa relação ambígua que estas pessoas estabelecem<br />

com o prazer, principalmente se considerar a forma incompleta da expressão oral<br />

<strong>do</strong>s depoentes, a julgar pelos depoimentos fragmenta<strong>do</strong>s que se pode observar.<br />

Então, essa oralidade sugere, antes uma atitude (corporal) insegura com a expressão<br />

de prazer. Daí, que, talvez, a linguagem escrita apareça como uma forma<br />

de falar de um corpo que se imagina, sonha, sublima ou que reclama para si, o<br />

prazer. A corporeidade e os afetos vivi<strong>do</strong>s e senti<strong>do</strong>s pelo corpo e a partir deste,<br />

colocam em questão a palavra, os gestos e também, a linguagem escrita como<br />

expressão movida por sentimentos de amor-paixão e de insegurança. Por isso, o<br />

corpo pressupõe uma narrativa que comunica experiências vividas que, por sua<br />

vez, é “a coordenação da alma, <strong>do</strong> olhar e da mão” (Benjamin, 1994:221).<br />

Então, na rota da comunicação <strong>do</strong>s corpos, a rádio comunitária de Rosário<br />

das Almas é um bom veículo para os mora<strong>do</strong>res animarem a sociabilidade e<br />

expressarem direta ou indiretamente seus sentimentos, uma vez que a arte da<br />

sedução também pode estar no ar, ao mesmo tempo em que ser ouvinte de uma<br />

rádio <strong>do</strong> lugar constrói uma atmosfera de distração, diversão e um mo<strong>do</strong> de “passar<br />

o tempo.” As cartas (sem assinaturas) são deixadas no portão <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s da<br />

casa onde funciona a rádio “pirata” (na sede), e cuja transmissão atinge todas as<br />

Consegui cópias de seis cartas com um <strong>do</strong>s locutores da rádio, mas apresentarei um número<br />

menor e pequenos trechos das mesmas. na época com o locutor que tinha mais audiência<br />

e para quem elas foram destinadas para serem lidas em seu programa. Como são anônimas<br />

não foi possível identificar, com precisão, se se tratavam de autores ou autoras, se seriam<br />

todas de uma mesma pessoa. Mas, possivelmente e pela caligrafia, trata-se de no mínimo <strong>do</strong>is<br />

autores (as). também a idade <strong>do</strong>s mesmos fica obscura.<br />

importante ressaltar que ter consegui<strong>do</strong> tais cópias das cartas foi um caso de exceção, por<br />

alguns motivos: primeiro porque não é comum ou recorrente mandarem cartas anônimas à<br />

rádio Comunitária, principalmente devi<strong>do</strong> aos usos restritos da escrita; segun<strong>do</strong> que estava<br />

num local privilegia<strong>do</strong>, pois a rádio funcionava, inicialmente, na casa em que estava hospedada;<br />

terceiro que havia se estabeleci<strong>do</strong> uma relação de confiança entre o locutor (e também meu<br />

hospedeiro) e a pesquisa<strong>do</strong>ra.<br />

32

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!