18.04.2013 Views

Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

2 8<br />

n e a D e S p e C i a l<br />

mora<strong>do</strong>s, sejam eles de dentro ou de fora. Embora não tenha presencia<strong>do</strong> nenhum<br />

caso de casamento força<strong>do</strong>, alguns pretendentes das “jovens” – quan<strong>do</strong> o namoro<br />

está em processo de oficialização, isto é de aceitação pelo pai – são rejeita<strong>do</strong>s.<br />

É menos comum namoradas que são de fora <strong>do</strong> assentamento sofrerem “interdição.”<br />

O namoro já aparece como proibi<strong>do</strong> nos relatos <strong>do</strong>s “jovens” sobre a época <strong>do</strong><br />

acampamento e início <strong>do</strong> assentamento, o que não impediu a prática constante da<br />

paquera e <strong>do</strong> namoro entre eles. Sempre escondi<strong>do</strong>, o namoro só se torna público<br />

quan<strong>do</strong> fica sério.<br />

Em mais de uma ocasião a presença ou intromissão <strong>do</strong>s pais nas entrevistas<br />

reforçou a percepção sobre os mecanismos de controle. Como na entrevista da<br />

Raquel (15 anos) que só falou sobre namoro nos poucos momentos em que a mãe<br />

e o pai não estavam presentes. Na ocasião, o pai estava deita<strong>do</strong> em seu quarto<br />

e a mãe acompanhava a entrevista que fora marcada com as suas filhas. Só nos<br />

momentos em que foi preparar café ou foi buscar um copo d’água para a pesquisa<strong>do</strong>ra,<br />

foi possível conversar mais reservadamente, quan<strong>do</strong> a filha mais velha usava<br />

um tom de voz quase de sussurro. A presença da mãe não ocorreu na entrevista<br />

com o filho Roberto (17 anos), que foi feita no quintal da casa, sem a presença de<br />

ninguém e com o consentimento <strong>do</strong>s pais.<br />

A severidade de alguns pais/avôs – que não aceitam qualquer negociação quanto<br />

ao controle sobre as filhas/netas – as exclui de atividades externas, mesmo organizadas<br />

pelas igrejas. Mas não há uma explicação clara por parte <strong>do</strong>s pais e nem<br />

<strong>do</strong>s “jovens” sobre a razão da proibição <strong>do</strong> namoro. A principal questão associada<br />

ao namoro é a preocupação com a gravidez das filhas. Apesar de to<strong>do</strong> o controle,<br />

mesmo nas famílias consideradas mais rígidas, ocorreram casos de gravidez durante<br />

o namoro ou mesmo sem um namora<strong>do</strong> oficial. Esse foi o caso Deise (30<br />

anos), filha de Daniel e Dolores; Jaqueline (21 anos), neta de Daniel e filha de Jaques;<br />

Claudinha (27 anos), filha de Celso e Carmosina, da rede <strong>do</strong>s acampa<strong>do</strong>s;<br />

Karina (18 anos), filha de Joaquim, da rede <strong>do</strong>s meeiros; e Rosali (29 anos), filha de<br />

Romana, que não é de nenhuma das duas redes. Após a revelação <strong>do</strong> fato, as filhas<br />

foram acolhidas por seus pais e receberam apoio. Esse foi o caso de Jaqueline que<br />

engravi<strong>do</strong>u durante o namoro que escondia <strong>do</strong> pai. Sua narrativa recupera a relação<br />

difícil com o pai, e o processo de negociação para oficializar o namoro escondi<strong>do</strong>,<br />

Jaqueline – Foi escondi<strong>do</strong>. […] até que minha mãe falou pra mim. […] ‘Ó, se você não<br />

terminar com ele vou contar pro teu pai.’Aí eu peguei e falei com ele [namora<strong>do</strong>] que não<br />

dava certo. […] Por causa <strong>do</strong> meu pai. Porque to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> dizia, meu pai tinha fama de<br />

bravo. Meu pai ali dentro era terrível. Então ninguém podia chegar perto.[…] Eu, ali com<br />

os meninos, a gente brincava, mas eu tinha que tá sempre afastada, não podia ter aquela<br />

amizade, que ele sempre pegava no meu pé. […] aí ele foi lá e pediu meu pai pra namorar<br />

em casa.[…] Meu pai conversou com a minha mãe e depois deixou, resolveu deixar.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!