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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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M a r g a r i D a a l V e S : C o l e t â n e a S o B r e e S t u D o S r u r a i S e g ê n e r o<br />

em casa. Foi aí que fizemos a relação da saúde com a convivência e com a promoção. Daí<br />

fizemos o processo formativo e as lutas pelos direitos aposenta<strong>do</strong>ria, salário-maternidade<br />

e crédito para ter melhor condição de vida, o que significaria ter saúde. A partir de então<br />

percebeu que, além de ter condições vida, de produzir, é preciso estabelecer nova relação<br />

com os seres vivos, porque nascemos, vivemos e somos relação o tempo to<strong>do</strong>. Conhe-<br />

cemos melhor nossa história e percebemos que as mulheres lidam com a defesa da vida,<br />

mexemos com a biodiversidade – ser humano, animais. Fomos entenden<strong>do</strong> que a nossa<br />

luta é por mudança social das relações – mexemos a questão da sobrevivência, produção,<br />

ocupar espaços (ninguém nos oferece, precisa ir conquistan<strong>do</strong>), enfrentar os conflitos,<br />

mudança de cultura, educação de filhos para ter mais saúde. Fomos perceben<strong>do</strong> que a<br />

luta por saúde é uma mudança cultural, ou seja, uma mudança de conhecimento, de vida,<br />

de saber e de relações, uma nova proposta. Precisamos fazer a nossa mudança própria,<br />

mexen<strong>do</strong> com a vida e a história, protegen<strong>do</strong> a vida. A saúde tem relação com o to<strong>do</strong>.<br />

Para ter saúde precisa mexer com o jeito que se vive, se produz, se alimenta e se acredita.<br />

O jeito é o trabalho de cultivar, respeitan<strong>do</strong> os passos de cada uma, enfrentan<strong>do</strong> o dia-<br />

a-dia. Às vezes é difícil porque a mulher tem a carga de deixar tu<strong>do</strong> pronto para sair de<br />

casa. É um processo onde as mulheres são sujeitas 3 , onde mulheres com 60 anos de idade<br />

afirmam que começaram a viver. O trabalho pode não dar resulta<strong>do</strong> mais evidente, mas<br />

mexe no íntimo das pessoas que é difícil de medir. É difícil de medir isso, mas no diálogo<br />

direto com as mulheres, família, se percebe mudança das mulheres. Isto é o ponto <strong>do</strong><br />

MMC – aí é o movimento – vê que a mulher se sente mulher. Onde se consegue chegar<br />

nas famílias conseguem perceber e dizer: deixei de remédio químico, deixei de plantar<br />

com veneno. (Entrevista com S.G., 2003.).<br />

Observamos como está implícita uma concepção de saúde na forma de fazer<br />

e de ver a saúde como um novo mo<strong>do</strong> de vida na roça e, ao mesmo tempo, como<br />

essa concepção foi se construin<strong>do</strong> e dan<strong>do</strong> um senti<strong>do</strong> de totalidade à idéia de<br />

saúde ao longo da trajetória <strong>do</strong> movimento: <strong>do</strong> pensar o corpo e a sexualidade<br />

da mulher, passan<strong>do</strong> para a idéia de saúde da mulher para a saúde pública como<br />

direito, até a afirmação de um novo mo<strong>do</strong> de viver e se relacionar consigo mesma,<br />

com os outros, com outras formas de vida, com a natureza, com o planeta, o<br />

cosmos e com a transcendência.<br />

Documentos <strong>do</strong> próprio movimento que sistematizam essa compreensão<br />

apontam nessa direção, como podemos observar:<br />

Na compreensão acerca da promoção da saúde no movimento, três elementos são básicos:<br />

O primeiro estabelece uma relação entre o conceito de promoção à saúde com o Projeto<br />

a palavra “sujeitas” é um termo que as mulheres <strong>do</strong> movimento a<strong>do</strong>tam com o sinônimo de<br />

protagonista ou de sujeito, agente ativo, não no senti<strong>do</strong> de subordinação.<br />

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