Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário
Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário
Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
M a r g a r i D a a l V e S : C o l e t â n e a S o B r e e S t u D o S r u r a i S e g ê n e r o<br />
proporcionou mudanças nas relações e práticas sociais de homens e mulheres. Mudanças<br />
significativas foram operadas nas relações familiares e redes de vizinhança,<br />
nas formas de interação e participação social, com alterações na dinâmica das relações<br />
sociais de gênero. A participação das mulheres em reuniões e atividades <strong>do</strong><br />
Sindicato <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res Rurais, o auto-reconhecimento como trabalha<strong>do</strong>ra<br />
rural e o acesso aos direitos sociais ocorreram progressiva e simultaneamente, influencia<strong>do</strong>s<br />
não somente pelo contexto local, mas pelo contexto social de inserção<br />
e visibilidade das mulheres trabalha<strong>do</strong>ras rurais nas lutas sociais.<br />
Por meio da participação em atividades da Associação e <strong>do</strong> Sindicato, lugares<br />
de construção de vínculos a partir de identificações e interesses comuns, assenta<strong>do</strong>s<br />
e assentadas ativam a condição de trabalha<strong>do</strong>res e trabalha<strong>do</strong>ras rurais, porta<strong>do</strong>res<br />
de direitos sociais. Esse agir em coletividade gera sentimentos de pertença<br />
grupal, onde se produz o significa<strong>do</strong> de ser alguém, alguém com uma identidade<br />
construída no processo de participação – a identidade de assenta<strong>do</strong>s, de trabalha<strong>do</strong>r<br />
e de trabalha<strong>do</strong>ra rural. As mudanças que operam nesse processo estendem-se<br />
às relações interpessoais com fortes expressões sobre as relações de gênero.<br />
Assentada: ‘Uai, ele se mu<strong>do</strong>u por isso (…) Na época, ele… ele não era nada, ele…ele<br />
não era da associação, ele…ele não era <strong>do</strong> sindicato, ele não era… depois que ele passou<br />
a trabalhar na associação, depois que ele passou a ser trabalha<strong>do</strong>r rural, depois que ele<br />
conheceu o sindicato que ele pegou freqüentar essas reunião, agora depois que ele tava na<br />
associação, eu acho que ele mu<strong>do</strong>u por isso. Que depois que ele foi pras reunião ele sabia<br />
tu<strong>do</strong> o que tava acontecen<strong>do</strong>. Ele escorria tu<strong>do</strong>, tiquim por tiquim (…) Que aquilo ele foi,<br />
ele foi pensan<strong>do</strong>. Foi pensan<strong>do</strong> que moda era que a trabalhadeira rural não podia ficar<br />
presa também, que ela tinha que ter tonice pra poder trabalhar, que a gente tinha que ter<br />
tonice pra poder sair pra algumas reunião. Aí ele foi pegan<strong>do</strong> isso tu<strong>do</strong> e ele foi deixan<strong>do</strong>.<br />
Eu sei que ele largou esses calundu dele foi depois dessas reunião, que ele tava trabalhan<strong>do</strong><br />
na associação, ele ia… que ele caminhava pra reunião, ele ficava semanas fora. Aí ele ia<br />
compreenden<strong>do</strong>. Que as reunião que ia passan<strong>do</strong> pra ele, ele ia compreenden<strong>do</strong>.<br />
A trajetória de conquista <strong>do</strong> assentamento, a organização <strong>do</strong>s assenta<strong>do</strong>s e<br />
sua participação em reuniões, mobilizações e atividades da Associação e <strong>do</strong> Sindicato<br />
<strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res Rurais, não somente lhes possibilitou nova inserção<br />
social, como abriu novos horizontes no campo <strong>do</strong>s direitos sociais e da cidadania.<br />
Ao pesquisarem o impacto <strong>do</strong>s assentamentos no espaço econômico, social e<br />
político em que se inserem Medeiros e Leite (1998) trabalham o significa<strong>do</strong> de<br />
assentar, que não se limita ao reconhecimento de uma situação de conflito. Assentar<br />
significa, para além <strong>do</strong> reconhecimento legal de um conjunto de demandas,<br />
a experiência de segmentos historicamente marginaliza<strong>do</strong>s e excluí<strong>do</strong>s com o<br />
mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s direitos (Medeiros; Leite, 1998:160).<br />
1