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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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n e a D e S p e C i a l<br />

<strong>Margarida</strong>s as mulheres cuidam de sua própria aparência como: arrumação e<br />

embelezamento da aparência pessoal; uso de símbolos e adereços de mulheres e de<br />

trabalha<strong>do</strong>ras rurais como flores e foices; além de mobilizarem a imprensa e apresentarem-se<br />

unificadas, como um bloco: “Nós, mulheres trabalha<strong>do</strong>ras rurais.”<br />

Por essas formas de apresentação constroem uma sensibilidade pública utilizan<strong>do</strong><br />

estrategicamente alguns papéis e atributos tradicionais das mulheres – fragilidade,<br />

filhos, sensibilidade. <strong>Margarida</strong> é o seu símbolo – uma mulher forte, que<br />

deu a vida pela luta, e uma flor bonita e terna. Um outro aspecto dessa sensibilidade<br />

pública pode ser encontrada em muitas histórias de luta pela terra, quan<strong>do</strong><br />

durante momentos de forte tensão as mulheres com suas crianças tomaram a<br />

frente de confrontos para impedir violências e agressões maiores. Transformam<br />

o desqualifica<strong>do</strong> e frágil feminino em força e eficácia política, na luta e nas ruas.<br />

As mulheres trabalha<strong>do</strong>ras rurais a partir dessas vivências vão construin<strong>do</strong><br />

uma narrativa própria e temporal em que se referem a um antes <strong>do</strong> movimento,<br />

quan<strong>do</strong> não falavam, eram escravizadas, sem valor, não sabiam de nada, tinham<br />

me<strong>do</strong> e não podiam, e um depois, em que se experimentam como gente, trabalha<strong>do</strong>ra<br />

e mulher de valor que pode falar, sair de casa, reivindicar e se experimentam<br />

sem me<strong>do</strong> de ser mulher. Nessa narrativa sobre a história delas no movimento, a<br />

conquista da fala é o demarca<strong>do</strong>r de um novo tempo e uma possibilidade concreta<br />

pela qual podem contar a própria história. E nesse contar se reposicionam no mun<strong>do</strong>.<br />

No tempo que era antes não tinham voz, não eram escutadas, não tinham som,<br />

falavam por elas, tinham me<strong>do</strong> de falar, tinham vergonha de falar, depois <strong>do</strong> movimento,<br />

clamaram seus direitos, ouviram o próprio som, ganharam fôlego, falam<br />

mesmo sem estarem certas, não ficam caladas quan<strong>do</strong> não aceitam qualquer coisa,<br />

fazem poesias e músicas. Os mo<strong>do</strong>s de falar dessas mulheres se manifestam por expressões<br />

que são definidas como mo<strong>do</strong>s típicos das trabalha<strong>do</strong>ras rurais fazerem política.<br />

São mo<strong>do</strong>s que articulam ritos, conflitos e comunicação. Elegi as poesias, músicas<br />

e fotos, cada qual como falas apropriadas, cada qual com uma atribuição específica:<br />

As poesias fazem relatos, registran<strong>do</strong> as histórias. Criam e apresentam poesias<br />

para fazer abertura de eventos, saudações, relatórios, avaliações. Nas poesias também<br />

se referem ao dia-a-dia de trabalho na roça, em casa, no movimento, falam<br />

<strong>do</strong> sonho da libertação, exprimin<strong>do</strong> a utopia da união, da conquista de direitos<br />

e da felicidade.<br />

As músicas estão presentes em to<strong>do</strong>s os eventos, e animam o início, o meio<br />

e o encerramento sempre dinamizan<strong>do</strong>, aglutinan<strong>do</strong> e movimentan<strong>do</strong> o grupo.<br />

Com a música as mulheres se juntam, levantam das cadeiras, batem palmas, gesticulam,<br />

riem… Quan<strong>do</strong> as discussões se tornam longas e cansativas ou tensas<br />

canta-se para quebrar o ritmo pesa<strong>do</strong> e restaurar a atenção. A música anima,<br />

celebra e incute valores e esperança. As músicas em geral são de autoria das<br />

próprias mulheres, mas há também de compositores e assessores. A música in-

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