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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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M a r g a r i D a a l V e S : C o l e t â n e a S o B r e e S t u D o S r u r a i S e g ê n e r o<br />

Também os homens consideram a palmeira uma mãe pela sua importância<br />

material para a sobrevivência de suas famílias. Ela assume significa<strong>do</strong> similar ao<br />

que é atribuí<strong>do</strong> à roça, como deixa entrever Domingos Lima:<br />

A palmeira de babaçu é a obra da natureza que serve pra gente […] a gente faz o carvão.<br />

A palmeira é uma mãe […] na parte inté da alimentação […] Eu pego minha machada,<br />

quebro quatro quilo de coco e vou comprar <strong>do</strong>is quilo de arroz […] Eu faço cofo, faço<br />

esteira, faço ninho de galinha. Pra mim eu considero ela como uma rocinha, é mesmo<br />

como a roça, que é minha mãe.<br />

Como podemos perceber, a palmeira é um recurso natural totalmente aproveitável,<br />

em relação à qual se constroem sentimentalidades. Essa afirmação é evidente<br />

nos depoimentos analisa<strong>do</strong>s e se acentua em um <strong>do</strong>s cantos <strong>do</strong> MIQCB:<br />

Ei! não derruba esta palmeira / Ei! não devora os palmeirais.<br />

Tu já sabes que não pode derrubar / Precisamos preservar as riquezas naturais.<br />

O coco é para nós grande riqueza / É obra da natureza / Ninguém vai dizer que não.<br />

Porque da palha só se faz casa pra morar / Já é meio de ajudar a maior população.<br />

Se faz óleo pra temperar comida / É um <strong>do</strong>s meios de vida pros fracos de condição.<br />

Reconhecemos o valor que o coco tem / A casca serve também pra fazer o carvão.<br />

Com o óleo de coco as mulheres caprichosas / Fazem comidas gostosas de uma boa estimação.<br />

Merece tanto seu valor classifica<strong>do</strong> / Que com o óleo apura<strong>do</strong> se faz melhor sabão.<br />

Palha de coco serve pra fazer chapéu / Da madeira faz papel / Ainda aduba nosso chão.<br />

Talo de coco também aproveita<strong>do</strong> / Faz quibano e cerca<strong>do</strong> para poder plantar feijão.<br />

A massa serve para engordar os porcos / Tá pouco o valor <strong>do</strong> coco / Precisam dar atenção.<br />

Pra os pobres este coco é meio de vida / Pisa o coco <strong>Margarida</strong> e bota o leite no capão. (VEIQCB, 2004)<br />

Nos rituais de socialização de costumes, de histórias (re)significadas de pais<br />

para filhos, transmitidas oralmente de uma geração à outra, observamos elementos<br />

<strong>do</strong> imaginário daqueles trabalha<strong>do</strong>res que revelam “[…] mecanismos sociais<br />

de propagação e reelaboração da memória […] capaz de relacionar recordações<br />

não experimentadas diretamente pela pessoa ou grupo; esse conjunto de recordações<br />

(memória herdada) é transmiti<strong>do</strong> por vários meios, como a tradição oral<br />

e escrita e os rituais.” (Ama<strong>do</strong>, 1994, p. 6)<br />

Em Monte Alegre, conforme Rosinere de Lima, “[…] tem um dizer que<br />

quem tá matan<strong>do</strong> uma palmeira é mesmo que tá matan<strong>do</strong> uma mãe de famía.”<br />

Tal associação, segun<strong>do</strong> aquela mora<strong>do</strong>ra, é “O povo mais véio é que conta […]<br />

que uma palmeira carregada de cacho parece uma mãe carregada de menino.”<br />

A representação da palmeira como mãe é uma realidade em outros lugares onde<br />

o extrativismo é realiza<strong>do</strong>. Para Maria Chagas(2005), essa mesma identificação,

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