Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário
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M a r g a r i D a a l V e S : C o l e t â n e a S o B r e e S t u D o S r u r a i S e g ê n e r o<br />
responsabilidade <strong>do</strong> jovem com o trabalho na roça e com a terra da família, e, de<br />
outro, sonham com um futuro melhor para seus filhos. Neste senti<strong>do</strong>, o que passou<br />
a ser trata<strong>do</strong> analiticamente como o para<strong>do</strong>xo “sair e ficar” foi aborda<strong>do</strong> a partir<br />
de recortes como a socialização <strong>do</strong>s jovens e a reprodução social da produção<br />
familiar, como será apresenta<strong>do</strong> a seguir.<br />
processos de socialização: ser homem, ser mulher<br />
Se há uma tensão importante entre “ficar e sair” <strong>do</strong> assentamento, há diferenças<br />
quan<strong>do</strong> observamos a questão a partir <strong>do</strong> corte de gênero. Os adultos que se<br />
“queixam” da saída <strong>do</strong>s jovens, se referem, mais especificamente, aos filhos homens<br />
solteiros. Somente os “jovens” rapazes se “queixam,” mais explicitamente, da saída<br />
das jovens e a dificuldade, quase impossibilidade, hoje, de namorar e casar com<br />
alguém <strong>do</strong> assentamento.<br />
Mas ao resgatar os processos de socialização que geraram o que pode ser denomina<strong>do</strong><br />
de “laços com a terra” se observa que essa saída, mais freqüente entre<br />
as “jovens,” pode ser lida como parte da reprodução social da produção familiar.<br />
Recuperan<strong>do</strong> o caso <strong>do</strong>s filhos da rede <strong>do</strong>s meeiros e comparan<strong>do</strong> aos “acampa<strong>do</strong>s”<br />
isso é mais evidente. Observou-se uma saída mais intensa entre os “jovens,”<br />
principalmente as “jovens,” <strong>do</strong> primeiro grupo, isso é, os/as que nasceram e/ou<br />
foram criadas na área rural da região antes da formação <strong>do</strong> assentamento. Neste<br />
caso, boa parte <strong>do</strong>s/das “jovens” não mora mais na área e as “jovens” mostram<br />
especial desinteresse pela reprodução tanto da terra da família <strong>do</strong> Morro das Pedrinhas<br />
(área adjacente ao assentamento e parte <strong>do</strong> Núcleo Colonial Santa Cruz<br />
(NCSC), quanto pelos lotes <strong>do</strong>s pais no assentamento. No entanto, das famílias<br />
que permaneceram na área, tanto no Morro das Pedrinhas, quanto no próprio<br />
assentamento é evidente o comprometimento de ao menos um filho homem, que<br />
mesmo quan<strong>do</strong> trabalha fora atua ajudan<strong>do</strong> os pais. O que chama a atenção nesse<br />
caso é a ruptura entre as gerações, as mulheres das gerações anteriores atuavam/<br />
atuam intensamente na produção, ao passo que as “jovens” (terceira geração da<br />
região) não demonstram qualquer interesse.<br />
Já entre os acampa<strong>do</strong>s encontramos uma situação com traços similares, mas<br />
com diferenças importantes. Se hoje a maioria das “jovens” não quer mais permanecer<br />
no lote, não rejeitam a identidade rural – como entre as “jovens” filhas<br />
<strong>do</strong>s ex-meeiros – e algumas, valorizam o perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> acampamento e início <strong>do</strong><br />
assentamento por terem podi<strong>do</strong> participar, naquela época, da produção. Mas<br />
afirmam que já existia diferença na divisão das tarefas entre os filhos homens<br />
e mulheres, e na utilização da terra das famílias. Os filhos homens eram mais<br />
solicita<strong>do</strong>s e nos primeiros anos tinham a possibilidade de cultivar um “pedaço”<br />
de terra no lote <strong>do</strong>s pais, cujo retorno financeiro era <strong>do</strong>s próprios filhos. As filhas<br />
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