Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário
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n e a D e S p e C i a l<br />
zen<strong>do</strong> atrelada a ela a categoria “trabalho,” como constitutiva <strong>do</strong>s povos “desenvolvi<strong>do</strong>s”<br />
em contrapartida aos atrasa<strong>do</strong>s. Trabalho e desenvolvimento justificavam o<br />
direito à propriedade. A caça, a pesca, e até mesmo a plantação de milho e abóbora<br />
em pedaços de terra não cerca<strong>do</strong>s, estavam certamente muito longe de “sujeitar”<br />
a terra, portanto se caracterizavam por práticas próprias de povos atrasa<strong>do</strong>s.<br />
A ideologia burguesa da civilidade e a revo lução<br />
protestante da consciência: parteira <strong>do</strong><br />
indivíduo, da competição e <strong>do</strong> desenvo lvimento<br />
O mun<strong>do</strong> que se ergue, no Ocidente, a partir da Revolução Francesa, com a ascensão<br />
política da burguesia, é a expressão, segun<strong>do</strong> Elias (1994), de um longo processo<br />
de desenvolvimento <strong>do</strong> controle <strong>do</strong>s afetos e <strong>do</strong>s sentimentos humanos mais primários.<br />
Uma importante etapa <strong>do</strong> processo civilizatório se apresenta quan<strong>do</strong>, por<br />
força crescente da divisão social <strong>do</strong> trabalho e <strong>do</strong> acirramento da competição entre<br />
classes (burguesia e nobreza), o controle externo oriun<strong>do</strong> das tradições e normas<br />
hierarquizantes é substituí<strong>do</strong> pelo controle interno <strong>do</strong>s instintos. Para Elias, o<br />
processo civilizatório não significa o desabrochar de mudanças racionais visan<strong>do</strong> o<br />
melhoramento da vida social, como para Weber, mas, antes disto, é visto como uma<br />
necessidade, por parte da nova elite <strong>do</strong>minante, de se distinguir <strong>do</strong>s menos favoreci<strong>do</strong>s<br />
de mo<strong>do</strong> a se perceber legitima<strong>do</strong>s na sua superioridade. A necessidade de<br />
distinção social não é “racional” ou seja, baseada em alguma espécie de necessidade<br />
social fundamental. Ao contrário, ela é fundamentalmente arbitrária, estigmatizan<strong>do</strong><br />
comportamentos e favorecen<strong>do</strong> outros de acor<strong>do</strong> com as necessidades de<br />
legitimação <strong>do</strong>s estratos sociais superiores. A justificação desses comportamentos<br />
como mais saudáveis ou higiênicos é posterior a sua estigmatização. O interesse de<br />
Elias é marcadamente desmistifica<strong>do</strong>r. A ele interessa apontar o caráter arbitrário<br />
e deriva<strong>do</strong> de justificações aparentemente neutras com respeito a valor.<br />
A tese de Weber é a de que o protestantismo ascético foi o parteiro não intencional<br />
desse mun<strong>do</strong> seculariza<strong>do</strong>, precisamente, ao deslocar o prêmio religioso<br />
para a repressão <strong>do</strong>s elementos afetivo e sentimental da personalidade em nome<br />
<strong>do</strong> sucesso da empresa mundana. Ao invés da ênfase na fraternidade cristã típica<br />
<strong>do</strong> catolicismo, temos a ênfase na competição de to<strong>do</strong>s entre si, sen<strong>do</strong> o indivíduo,<br />
o fundamento moral último e não mais a coletividade. Os outros se transformam<br />
de irmãos em competi<strong>do</strong>res. Weber denominou o tipo de racionalismo<br />
daí resultante de racionalismo da <strong>do</strong>minação <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, pela sua característica<br />
de competitividade entre os indivíduos, o que leva à busca de controle tanto <strong>do</strong>s<br />
instintos naturais humanos, quanto da natureza exterior.<br />
Toda a ênfase legitima<strong>do</strong>ra passa a ser conferida às noções de responsabilidade<br />
e iniciativa individual. Weber evidencia a influência determinante <strong>do</strong> protestan-