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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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M a r g a r i D a a l V e S : C o l e t â n e a S o B r e e S t u D o S r u r a i S e g ê n e r o<br />

“simboliza uma moralidade camponesa (honra <strong>do</strong> pai), e a lavoura, na terra de trabalho,<br />

representa a interação adequada com a natureza – que pelo trabalho <strong>do</strong> pai se torna a<br />

morada da vida.” O autor mostra nas oposições os vários níveis de troca equilibrada entre<br />

os homens – o parentesco e a reciprocidade. Isto é, “o mantimento resulta de e circula por<br />

circuitos de reciprocidade, nesta medida, é o resulta<strong>do</strong> de uma ética camponesa.”<br />

Nesta medida, conhecer a culinária pomerana é conhecer os valores primordiais<br />

da construção de sua identidade étnica – a circulação da germanidade nas<br />

tarefas de educação culinária e <strong>do</strong>s valores religiosos executa<strong>do</strong>s pela figura feminina<br />

– e de seu <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> de vida camponês – a transformação <strong>do</strong>s mantimentos<br />

em alimentos e a reprodução da lógica da reciprocidade.<br />

Estes valores constituem parte da formação daqueles que melhor conhecem<br />

a tradição e que possuem os cargos mais importantes no rito de casamento: as<br />

cozinheiras, as rezadeiras (que falam a Oração <strong>do</strong> Quebra-louças), o organiza<strong>do</strong>r<br />

da alimentação e os músicos (no caso os toca<strong>do</strong>res de concertina).<br />

Neste senti<strong>do</strong>, estas funções são elementos de afirmação da identidade étnica e<br />

social, isto é, pomerana e camponesa, e somente são preenchidas por aqueles eleitos<br />

no interior da comunidade como os narra<strong>do</strong>res da tradição por excelência.<br />

Doces poderes: a disputa pela autoridade na land<br />

Antes da existência das estradas na região – conta uma informante – no dia <strong>do</strong><br />

casamento, os noivos costumavam ir monta<strong>do</strong>s nos seus cavalos para a igreja.<br />

Nesta hora, a noiva poderia ir à frente <strong>do</strong> noivo, mas após a cerimônia, no retorno<br />

para a festa, o mari<strong>do</strong> deveria ir à frente de sua esposa, pois isso demonstrava que<br />

“era ele quem mandaria em casa.”<br />

O bule e o cachimbo, em vários ritos de Quebra-louças, presentea<strong>do</strong>s aos<br />

noivos, simbolizam no casamento a obediência da esposa à chefia <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>,<br />

“porque é assim que se forma uma família.” A fumaça está relacionada a autoridade<br />

<strong>do</strong> homem, que tem de ser maior que a da mulher, por isso a “idéia de que a<br />

fumaça tem que subir.” Conforme Rodrigues (1991), no momento <strong>do</strong> casamento é<br />

reafirmada a autoridade <strong>do</strong> homem no coman<strong>do</strong> da casa.<br />

Conforme o trecho de uma das orações proferidas em pomerano: “Você tem que fumar, a<br />

fumaça tem que levantar até o teto e rodar; você tem que esquentar esse café direitinho<br />

para ele, muitas vezes e sem reclamar! Você tem que costurar as meias dele.”<br />

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