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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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n e a D e S p e C i a l<br />

a ação, para se expressarem, para serem trabalha<strong>do</strong>ras rurais, para freqüentarem<br />

e negociarem na feira os produtos <strong>do</strong> seu trabalho.<br />

Assentada: Que ele não deixava eu ir na feira, ele que ia. Eu não tinha muita libertação<br />

de ir pra feira não, mas agora.<br />

Para as mulheres a liberdade se traduz, ainda, por sentirem-se valorizadas, na<br />

capacidade de se expressarem, conversarem, manifestarem o que sentem, vencen<strong>do</strong><br />

a vergonha de si mesmas. A participação na feira venden<strong>do</strong> o que produzem e<br />

compran<strong>do</strong> o que é de precisão, é sempre destacada como realização de liberdade<br />

e reconhecimento, uma das principais mudanças em suas vidas.<br />

Assentada: Mais liberdade, adquiri mais liberdade. Hoje sinto mais valorizada hoje,<br />

mais <strong>do</strong> que de primeiro. De primeiro, nós não tinha valor não (…) Nós ficava<br />

aí, sei lá como é que é, nem conversar nós não sabia. Oh! eu não sabia não moça!<br />

Eu mesmo, eu mesmo não sabia conversar não. Chegasse uma pessoa eu ficava<br />

assim murcha, me dava assim, uma frieza no rosto de vergonha de eu conversar<br />

com aquela pessoa, eu não sabia como é que eu falava, como é que eu conversava<br />

não. Era… desse jeito. (…) Conversava nada, quan<strong>do</strong> chegava uma pessoa eu tu<br />

pra dentro. (…) Escondia com vergonha de eu falar. Com vergonha de conversar<br />

com o pessoal. Agora, <strong>do</strong>u minha opinião. A gente vai na frente, a gente vende, a<br />

gente compra. E de primeiro não, esperava que o mari<strong>do</strong> colocava as coisas dentro<br />

de casa pra gente. A gente ficava aí parecen<strong>do</strong> uma borraeira. Era assim minha<br />

filha. Eu mesma senti por mim mesmo.<br />

O que teria impulsiona<strong>do</strong> a participação e maior autonomia das mulheres na<br />

feira e uma aparente retração <strong>do</strong>s homens? Um primeiro indicativo se relaciona<br />

às mudanças operadas na produção <strong>do</strong> assentamento. Segun<strong>do</strong> os assenta<strong>do</strong>s, a<br />

produção decaiu muito nos últimos anos, em grande parte pela escassez de água,<br />

aliada ao cansaço das terras. A produção de farinha e beiju coordenada e gerida<br />

pelas mulheres passou a ser a base de sustentação de grande parte das famílias<br />

<strong>do</strong> assentamento.<br />

Em outros tempos essa atividade era também realizada por algumas mulheres,<br />

mas por outro la<strong>do</strong>, não assumia a importância econômica atual. Transformações<br />

ocorridas no contexto socioeconômico resultam em rearranjos espaciais e nos<br />

lugares ocupa<strong>do</strong>s por homens e mulheres na dinâmica da produção e das relações<br />

de gênero (Woortmann, 1992; Mattos, 2001).<br />

De fato, algumas mulheres têm leva<strong>do</strong> o beiju para a feira há vários anos.<br />

Umas há mais tempo, outras há menos tempo. Entretanto, o que se revela como<br />

uma novidade da maior importância não é o tempo em si, mas o mo<strong>do</strong> como o

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