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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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8<br />

n e a D e S p e C i a l<br />

Sahlins (1969, p. 139-236) mostra que a interligação entre os aspectos econômicos,<br />

sociais e morais determinam a estrutura da reciprocidade, crian<strong>do</strong> uma<br />

hierarquia de níveis de integração que compreende a reciprocidade balanceada<br />

até a reciprocidade negativa.<br />

Esta forma de reciprocidade visa somente à obtenção de vantagens através<br />

da permuta, <strong>do</strong> roubo, <strong>do</strong> jogo, tratan<strong>do</strong>-se de um tipo de troca individualiza<strong>do</strong><br />

que não atenderia aos interesses comunitários. As várias distinções sociais tais<br />

como status, riqueza, necessidade e tipos de bens troca<strong>do</strong>s, somadas às distâncias<br />

sociais nas relações de parentesco determinariam respectivamente a verticalidade<br />

e a horizontalidade das trocas.<br />

As reciprocidades generalizadas e positivas são parte das alianças de nascimento,<br />

matrimônio e morte e das relações de troca simbólica e econômica constitutivas<br />

<strong>do</strong> dia-a-dia da comunidade pomerana. Como as trocas são feitas por<br />

homens e mulheres?<br />

Os homens pomeranos operam com a lógica da reciprocidade negativa presente<br />

na esfera de merca<strong>do</strong>, as quais ultrapassam a lógica da pequena tradição<br />

e estariam marcadas pelas atitudes individualizadas da economia capitalista<br />

(roubo, assassinatos, obtenção de vantagens). No caso das trocas realizadas pelas<br />

mulheres nas praças de merca<strong>do</strong>, são positivas, na medida em que mantêm<br />

uma ordem de laços simbólicos e econômicos que garantem a manutenção da<br />

land. Suas atitudes marcariam uma mediação entre as esferas da pequena e da<br />

grande tradição.<br />

Conforme vimos, na esfera <strong>do</strong> sagra<strong>do</strong>, as mulheres tanto transitam entre reciprocidades<br />

negativas quanto entre positivas, na medida em que detêm o controle<br />

<strong>do</strong> sagra<strong>do</strong> e podem usá-lo de forma positiva, quan<strong>do</strong> atuam como benzedeiras,<br />

ou de forma negativa, quan<strong>do</strong> atuam como bruxas.<br />

Os momentos de tensão ocorrem em <strong>do</strong>is níveis:<br />

• o conflito entre os membros que herdam diferentes parcelas da herança e <strong>do</strong><br />

patrimônio, tornan<strong>do</strong> a reciprocidade negativa. Aqueles excluí<strong>do</strong>s da herança da<br />

terra se utilizariam de estratégias individualizadas, situadas fora <strong>do</strong>s parâmetros<br />

morais ideais, para obtenção <strong>do</strong>s recursos que lhes foram nega<strong>do</strong>s. Algumas das<br />

estratégias seriam os casos de roubo em família (assinatura de <strong>do</strong>cumentos, venda<br />

de bens sem repasse <strong>do</strong> dinheiro), brigas com uso de violência física e simbólica<br />

e processos jurídicos;<br />

•<br />

competição entre mulheres e homens quanto à lógica das trocas operadas na<br />

disputa pela autoridade da land. As mulheres se valeriam das atitudes individualizadas<br />

representadas pela bruxaria, expressan<strong>do</strong> uma reciprocidade negativa,<br />

a fim de garantir o patrimônio que lhe foi nega<strong>do</strong>. Os homens se valeriam <strong>do</strong><br />

discurso da tradição centra<strong>do</strong> na autoridade <strong>do</strong> pai para usufruírem <strong>do</strong> benefício<br />

de serem herdeiros da land.

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