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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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M a r g a r i D a a l V e S : C o l e t â n e a S o B r e e S t u D o S r u r a i S e g ê n e r o<br />

Quan<strong>do</strong> indagadas quanto às possíveis razões de não haver programas ou<br />

políticas de apoio à produção das mulheres assentadas, em geral, demonstram<br />

que não conseguem entender bem o porquê, uma vez que passaram a ser trabalha<strong>do</strong>ras<br />

rurais. Chegam mesmo a deixar claro um certo desânimo e descrença<br />

com os resulta<strong>do</strong>s de um possível investimento nesse senti<strong>do</strong>.<br />

Assentada: Sei lá moça! Eu não sei não. É claro que tinha… como eu tava falan<strong>do</strong>,<br />

quan<strong>do</strong> nós passamo a ser trabalha<strong>do</strong>ra rural claro que tinha algum projeto, devia ter<br />

algum projeto pra gente também. E nunca falaram num projeto pras mulher. Ce vê que<br />

a gente tem essa vida direto.<br />

Assentada: (…) A gente fica pensan<strong>do</strong> reunir, ir, depois chega lá não… eles não liberar<br />

nada, não querer reagir nada pra gente. Aí fica aí, to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> aí calmo… (risos)<br />

A essas palavras outras poderiam ser acrescentadas, relatos <strong>do</strong> excesso de<br />

trabalho e responsabilidades a pesar sobre mulheres, da vontade de se capacitarem<br />

para aprimorarem seu pequeno empreendimento, ou mesmo vislumbrarem<br />

outras fontes de renda.<br />

As mulheres trabalha<strong>do</strong>ras rurais, assentadas da reforma agrária, vêm transforman<strong>do</strong><br />

a sua participação e se fazen<strong>do</strong> presentes em diversos espaços – <strong>do</strong>méstico,<br />

da produção, da comunidade, cidadania (Santos, 2001) em dinâmica<br />

interação, nos quais residem as formas de <strong>do</strong>minação, as dissensões e conflitos,<br />

mas as possibilidades, os germens da mudança e da transformação. Enfim, a possibilidade<br />

da emancipação, que não pode resultar de uma resolução, nem tampouco<br />

se apresentar como um ponto fixo a alcançar, mas como um processo rui<strong>do</strong>so,<br />

instável, de confrontos e negociações, e por isso mesmo, pleno de possibilidades<br />

e alternativas para o seu crescimento com autonomia (id., 2001).<br />

Os exemplos estão por toda parte a nos oferecer comprovação <strong>do</strong> que Santos<br />

(2001) chama realismo utópico “… que preside as iniciativas <strong>do</strong>s grupos oprimi<strong>do</strong>s<br />

que, num mun<strong>do</strong> onde parece ter desapareci<strong>do</strong> a alternativa vão construin<strong>do</strong>, um<br />

pouco por toda a parte, alternativas locais que tornam possível uma vida digna e<br />

decente.” (Santos, 2001:36).<br />

Especialmente no caso das mulheres trabalha<strong>do</strong>ras rurais, assentadas da reforma<br />

agrária, é preciso que sua experiência conquiste visibilidade social presentean<strong>do</strong><br />

a to<strong>do</strong>s com bravura, coragem e a ousadia de inventar fazer, como as mulheres <strong>do</strong><br />

PA Aliança. Mas, sobretu<strong>do</strong>, para que tenham o devi<strong>do</strong> reconhecimento e apoio.<br />

As trajetórias na terra de homens e mulheres <strong>do</strong> PA Aliança nos dão conta de<br />

um amplo campo de interações sociais que lhes possibilitaram novas sociabilidades,<br />

mudanças nas relações de gênero e a construção de identidades coletivas.<br />

Assenta<strong>do</strong>s, pequenos produtores, agricultores familiares, mulher trabalha<strong>do</strong>ra rural,<br />

mulheres <strong>do</strong> beiju são identidades construídas de acor<strong>do</strong> com as posições que<br />

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