Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário
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M a r g a r i D a a l V e S : C o l e t â n e a S o B r e e S t u D o S r u r a i S e g ê n e r o<br />
cipação <strong>do</strong>s mancebos, a autora discorre que ela é conquistada pela concessão de<br />
um lote de terra que já necessita manter um provento próprio em função da nova<br />
etapa etária que os neo-adultos conseguiram.<br />
Assim, a emancipação não seria um marco fixo que, transposto, passaria o<br />
indivíduo para um novo quadro de direitos e deveres sociais. A licença, por parte<br />
<strong>do</strong> pai, para a construção de uma casa de morada geralmente próxima ao terreno<br />
que este indivíduo já cultivava, é fato sempre liga<strong>do</strong>, para Moura, ao casamento.<br />
Portanto, o novo casal tornaria possível reproduzir naquela área o binômio<br />
unidade de produção e unidade de consumo que caracteriza a propriedade camponesa<br />
independente: no caso, o homem produz na “roça” visan<strong>do</strong> manter a “casa<br />
de morada” onde trabalha a mulher, discorre Moura.<br />
Por fim, em sua teoria das sociedades camponesas, os papéis sexuais demandariam<br />
uma economia da intimidade em que os excessos, as luxúrias, não são<br />
bem vistos, ou dito de outra forma, são mal-ditos, pois a complementaridade<br />
entre os sexos tende a definir e estipular os lócus estruturais <strong>do</strong>s sujeitos-atores<br />
encobrin<strong>do</strong>, no discurso público, a ética <strong>do</strong>s afetos.<br />
Da complementaridade à<br />
dependência: os Woortmanns<br />
Em O trabalho da terra, Klaas Woortmann e Ellen F. Woortmann (1997) fundamenta<strong>do</strong>s<br />
no campesinato sergipano, inferem que o trabalho produz o gênero. Ao<br />
falar sobre ele, os sitiantes, e mais notadamente suas mulheres, também o associam<br />
à sexualidade, sempre em tom jocoso; ao fazê-lo, segun<strong>do</strong> os antropólogos,<br />
novamente falam de gênero.<br />
A sexualidade camponesa tende a fazer analogias com a natureza, este <strong>do</strong>mínio<br />
imbrica<strong>do</strong> com a realidade coletiva. A título de exemplificação no trato <strong>do</strong><br />
corpo da mulher campesina, ao tratar <strong>do</strong>s pêlos pubianos femininos, os camponeses<br />
falam de forma análoga ao que eles denominam como “mato,” segun<strong>do</strong> os<br />
autores. Enquanto solteiras, não “<strong>do</strong>madas,” as mulheres mantêm esses pêlos. De<br />
acor<strong>do</strong> com os antropólogos, pouco antes da cerimônia <strong>do</strong> casamento, porém, a<br />
noiva é submetida à retirada desse “mato,” como relatam os camponeses, para<br />
que o mari<strong>do</strong> possa nela “plantar” na noite de núpcias. Dizem as mulheres, que<br />
não precisam “brocar o mato” porque já “brocam o mato delas,” “governan<strong>do</strong>” seu<br />
próprio corpo. Assim como apregoariam os homens com relação à roça, conjeturam<br />
as mulheres: “limpinha é uma lindeza.”<br />
Outrossim, a mulher camponesa deve, segun<strong>do</strong> Woortmann & Woortmann,<br />
se manter “limpa” para o resto da vida conjugal numa clara alusão às limpas periódicas<br />
da roça. Análoga à malhada, a mulher é vista como “passiva” e nenhuma<br />
delas “produz” sem a iniciativa <strong>do</strong> homem.<br />
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