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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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M a r g a r i D a a l V e S : C o l e t â n e a S o B r e e S t u D o S r u r a i S e g ê n e r o<br />

munidade, sem levar em conta tradições e valores culturais, são capazes de interferir<br />

na vida da mulher rural, na sua carga de trabalho, na sua oportunidade de<br />

inserção social, na sua autonomia econômica e realização pessoal? De que forma<br />

as próprias mulheres interpretam suas vivências com práticas auto-sustentáveis<br />

e definem sua identidade no confronto entre práticas e formas de vida diferentes,<br />

como são os modelos de desenvolvimento produtivista e o alternativo?<br />

Ao argumento de que a defesa de um desenvolvimento alternativo, basea<strong>do</strong><br />

em uma agricultura diversificada e auto-sustentável, constituir-se-ia numa resposta<br />

à crise <strong>do</strong> modelo de desenvolvimento ocidental, ti<strong>do</strong> como destrutivo e<br />

masculino, promotor da “merca<strong>do</strong>rização” da mulher, bem como da natureza e<br />

<strong>do</strong> trabalho das pessoas que vivem nos países <strong>do</strong> Terceiro Mun<strong>do</strong>, Bina Agarwal<br />

(1991), em análise da experiência indiana com a crise ambiental, – suas causas,<br />

efeitos e respostas – faz uma pertinente discussão. Afirma ela, que as mulheres<br />

são tanto vítimas da crise ambiental, no mo<strong>do</strong> específico <strong>do</strong> gênero, quanto um<br />

importante ator na sua recuperação. Mas, concluiu sua análise, com uma chamada<br />

para a defesa feminista mais <strong>do</strong> que para uma posição ambientalista-feminista<br />

natural. Agarwal acredita ser necessário se pressionar para uma transformação,<br />

quanto aos termos <strong>do</strong> gênero, mais <strong>do</strong> que para um modelo de desenvolvimento<br />

econômico. Defende, também, a necessidade de contextualizar o fato de a mulher<br />

rural ter emergi<strong>do</strong> como principal ator <strong>do</strong>s movimentos ambientais, em países<br />

<strong>do</strong> Sul, como por exemplo, na Índia, em que a pobreza e marginalidade social<br />

da mulher fazem parte de um cenário onde ela se encontra em estreita ligação<br />

com a natureza. A autora ressalta a importância dessa contextualização histórica,<br />

por considerar, que a ligação da mulher com a natureza é social e culturalmente<br />

construída, e não determinada biologicamente.<br />

Torna-se, portanto, fundamental, nesse momento de enaltecimento da imagem<br />

da mulher como, preserva<strong>do</strong>ra ambiental e importante agente de proteção<br />

a espécies raras, considerar esse argumento de Agarwal (1986), que chamou a<br />

atenção para o perigo na propagação da idéia da mulher como conhece<strong>do</strong>ra e<br />

maneja<strong>do</strong>ra privilegiada <strong>do</strong> meio ambiente, o que, generalizadamente, poderia<br />

levar à manutenção de uma ideologia de gênero contraprodutiva. Segun<strong>do</strong> a autora,<br />

colocar a recuperação <strong>do</strong> meio ambiente a cargo da mulher não resolve o<br />

problema ambiental, porque as razões para a crise são múltiplas e pode acabar por<br />

manter inalterada a condição de submissão da mulher. Agarwal percebe como<br />

problemático en<strong>do</strong>ssar, na sociedade rural tradicional, a noção de mulher como<br />

“naturalmente” destinada a cuidar das coisas da casa, <strong>do</strong> quintal, das variedades<br />

nativas, pois isso poderia significa viver sob uma fatigante sobrecarga de trabalho,<br />

que inclui deveres no âmbito da casa e da roça. Campillo (1993), também ressalta<br />

essa preocupação, quan<strong>do</strong> afirma que frente à questão ambiental, não se podem<br />

perder de vista as desigualdades sociais. Para essa autora, não se pode camuflar a<br />

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