texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná
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artista não é somente aquele que produz as obras, mas é o próprio mun<strong>do</strong> produzi<strong>do</strong> por<br />
elas. O artista passa a igualar-se ao cria<strong>do</strong>r <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Mais <strong>do</strong> que isso: o artista passa a<br />
ser o próprio cria<strong>do</strong>r da realidade. “O artista moderno (...) quer ser tu<strong>do</strong>: o rio que corre<br />
através da floresta, o monte, o vale, a calçada onde as belas mulheres pisam, o céu, a<br />
nuvem, Deus!” (PERNETA In CAROLLO, 1980, 31)<br />
De maneira geral, as obras simbolistas brasileiras reproduzem os ideais estéticos<br />
europeus. Poucas são capazes de levantar algum posicionamento novo. Isso aparece, sob<br />
a forma de um combate sen<strong>do</strong> trava<strong>do</strong> internamente no país, entre os estetas de uma<br />
nova arte, imbuí<strong>do</strong>s de idealismo reforma<strong>do</strong>r, lutan<strong>do</strong> contra a imobilidade burguesa de<br />
uma sociedade tradicionalista como era a brasileira. Os questionamentos de Frei<br />
Samuel, em 1895, sobre qual a finalidade da arte quan<strong>do</strong> colocadas em um merca<strong>do</strong> de<br />
valor que destrói toda a possibilidade de constituição da beleza desvinculada <strong>do</strong><br />
dinheiro, exemplificam de forma abrangente o con<strong>texto</strong> em que o Simbolismo tenta<br />
desenvolver-se:<br />
Para ouvi<strong>do</strong>s sur<strong>do</strong>s que valem trina<strong>do</strong>s de pássaro? para cegos que beleza tem uma<br />
paisagem, um pedaço de céu. Um trecho de mar? para o espírito burguês que valem<br />
versos, harmonias e mármores? A Vida tem dentro de si outra vida, mesquinha e feroz, – a<br />
Ambição. (FREI SAMUEL In CAROLLO, 1980, 39)<br />
Os escritos de Dario Veloso são <strong>do</strong>s mais combativos contra o mo<strong>do</strong> de vida<br />
burguês desenvolvi<strong>do</strong>s no simbolismo brasileiro. Para ele, a arte deve prever uma<br />
renovação constante de seus ideais. Essa mudança se dá pela característica da arte ser<br />
cerebral, ou seja, fruto de um processo de inteligência. Porém, ele aponta que o burguês<br />
não é capaz disso. Tu<strong>do</strong> o que é diferente o assusta; ele possui me<strong>do</strong> de que o seu<br />
mun<strong>do</strong> seja desestrutura<strong>do</strong> e, para isso, insiste em manter presente na sociedade uma<br />
consciência morta. Aplican<strong>do</strong> os ideais simbolistas de artista para justificar a fuga da<br />
sociedade burguesa, ele coloca o mun<strong>do</strong> da arte desvincula<strong>do</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> social, sen<strong>do</strong><br />
essa arte a responsável pela ligação entre o universo moral e o divino. Ou seja, é a arte<br />
que justifica as ações humanas e as conduz em direção à perfeição e o belo.<br />
A OBRA DE ARTE é a realização impecável de idéia superiormente concebida pelos mais<br />
intelectuais <strong>do</strong>s homens.<br />
A visualidade burguesa é o estrabismo da consciência morta.<br />
O artista é cerebral; o burguês é ventríloco.<br />
(...)<br />
A OBRA DE ARTE que mereça a sanção <strong>do</strong> burguês, ou não é realmente OBRA<br />
DE ARTE, ou o burguês a proclamou inconscientemente.<br />
(...) A Arte requer iniciação.<br />
A região da Arte está fora <strong>do</strong> círculo da vida social; é parame entre o Nihil e o<br />
Eterno, entre o Visível e o Invisível, é o elo simbólico que prende o Moral ao Divino:<br />
— É o BELO. (VELOSO In CAROLLO, 1980, 39)