texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná
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⎯ “E diga-me então, meu caro... aproveite o ensejo para dizer-me: que vale esta minha<br />
obsessão?... Como é que não consigo, apezar de toda esta minha anciedade, projectar aquella<br />
figura na penumbra deste corre<strong>do</strong>r...? Oh!...”<br />
E ainda uma vez:<br />
⎯ “É impossível!... é impossível!...”<br />
E antes de despedir-se:<br />
⎯ “Mas, tenha paciencia... Esta visão, agora, é a minha vida...” (POMBO, 1905, 114-<br />
115)<br />
Esse gnomo, iguala<strong>do</strong> ao espírito de Fileto pelo narra<strong>do</strong>r (“Fiquei erecto e<br />
mu<strong>do</strong> diante <strong>do</strong> moço. (...) como si estivesse em presença de um duende” (50);<br />
“Aquella manhã não pude consiliar o somno. Velei até pela manhã, pensan<strong>do</strong><br />
naquelle moço e naquelle duende, ou antes, pensan<strong>do</strong> naquelles <strong>do</strong>is duendes.”<br />
(54)), é fruto de uma experiência de elevação espiritual, na qual tem-se como<br />
resulta<strong>do</strong> a consolidação de um mun<strong>do</strong> subjetivo. Assim que as visões da mulher-<br />
fantasma se tornam mais freqüentes, Fileto a persegue praticamente todas as<br />
noites. Enquanto o narra<strong>do</strong>r está preocupa<strong>do</strong> em ler os cadernos que Fileto lhe<br />
emprestou, parece que as únicas preocupações de Fileto são com a <strong>do</strong>ença da irmã,<br />
Alice, que está acometida de uma grave complicação de saúde, e de conhecer o<br />
fantasma.<br />
A estruturação feita na narrativa faz com que, quan<strong>do</strong> Alice piora seu<br />
quadro de saúde, mais continuamente a visão da mulher se realiza. Durante um<br />
perío<strong>do</strong>, todas as noites, eles vêem-na. Sempre ela faz um mesmo trajeto: vai <strong>do</strong><br />
corre<strong>do</strong>r onde se encontram até a capela <strong>do</strong> hospício, fican<strong>do</strong> a orar até o dia<br />
amanhecer, ou até que Fileto tente o contato com ela. Desde que a visão surge, em<br />
nenhuma vez lhes foi possível vê-la de frente. Acabam sempre ven<strong>do</strong> as suas<br />
diagonais (estrutura básica <strong>do</strong> romance: tu<strong>do</strong> é visto de la<strong>do</strong>, nada é objetivo). Na<br />
noite em que Alice não suporta mais e acaba por falecer, Fileto é visita<strong>do</strong> pelo<br />
fantasma que se revela a ele. Era Alice. Quanto mais Alice se separa <strong>do</strong> seu corpo,<br />
mais o seu espírito pode se manifestar para o irmão.<br />
⎯ “E é preciso que saiba ainda: nunca pude vel-a de frente... Fico ás vezes, velan<strong>do</strong> a<br />
noite inteira, junto á porta, e quan<strong>do</strong> a vejo, ella tem já passa<strong>do</strong>, erguen<strong>do</strong> o cirio acima da<br />
cabeça, muito lenta e muito solenne. Outra coisa: não é sempre que ella aparece. Ha<br />
epocas, no emtanto, em que, invariavelmente, passa todas as noites...” (POMBO, 1905, 52)<br />
Como sombras errantes por ali andamos minutos longos como seculos, quan<strong>do</strong> de repente<br />
Fileto extremeceu, desvendan<strong>do</strong> dentro da capella, junto <strong>do</strong> altar, a visão que orava... Quiz<br />
elle avançar temerariamente até lá, quiz falar... mas uma força inelutável o impedia,<br />
tolhen<strong>do</strong>-lhe os passos e a voz. Espectros á vista daquelle espectro, ali ficamos até a