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texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

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“Ah! tivesse eu gera<strong>do</strong> um ninho de serpentes,<br />

Em vez de amamentar esse aleijão sem graça!<br />

Maldita a noite <strong>do</strong>s prazeres mais ardentes<br />

Em que meu ventre concebeu minha desgraça!<br />

Em L’Albatros (ANEXO 11), o poeta (“Esse senhor <strong>do</strong> azul”) é um descrito ser<br />

que não se adapta, que está desloca<strong>do</strong> em um mun<strong>do</strong> que não foi feito por ele e no qual,<br />

após a sua queda, não pode mais viver. O poeta, possuin<strong>do</strong> asas que o permite atingir<br />

alturas inimagináveis para as demais pessoas, é impedi<strong>do</strong>, por essas mesmas asas, de<br />

caminhar em terra firme.<br />

Deixa <strong>do</strong>ridamente as grandes e alvas asas<br />

Como remos cair e arrastar-se ao seu la<strong>do</strong>.<br />

(...)<br />

Ave tão bela, como está cômica e feia!<br />

(...)<br />

O poeta é semelhante ao príncipe da altura<br />

Que busca a tempestade e ri da flecha no ar;<br />

Exila<strong>do</strong> no chão, em meio à corja impura,<br />

As asas de gigante impedem-no de andar.<br />

E o albatroz não voa mais em direção a uma divindade, pois essa não mais<br />

existe. O que se percebe é que o poeta vai em direção não de um ser transcendente, mas<br />

atrás de um distanciamento de um mun<strong>do</strong> ordinário e degenera<strong>do</strong>, buscan<strong>do</strong> as altitudes<br />

onde estaria a salvo da podridão reinante no mun<strong>do</strong>.<br />

Em última instância, quan<strong>do</strong> pensa-se que a arte é o fazer subjetivo sobre a<br />

realidade externa, vê-se que, a partir de Baudelaire, o que se tem é uma necessidade de<br />

arte para justificar a vida. Essa postura já é radicalmente contrária à postura romântica.<br />

Nesta última, o que se via era arte como um mecanismo de explicitação de analogias<br />

que buscavam mostrar as ligações entre o mun<strong>do</strong> material e as verdades imutáveis <strong>do</strong><br />

espírito. Da nova postura dada por Baudelaire, tem-se alguns poetas que serão<br />

representativos de direcionamentos toma<strong>do</strong>s pela arte. Os artistas irão a<strong>do</strong>tar as idéias<br />

de Baudelaire (nesse caso, algumas delas, sem dúvida nenhum, derivadas <strong>do</strong><br />

Romantismo 6 ) de um poeta isola<strong>do</strong>, viven<strong>do</strong> em um mun<strong>do</strong> à parte, preferin<strong>do</strong> mais o<br />

recolhimento e a penumbra dada pelas cortinas <strong>do</strong> que o sol da vida ao ar livre. Sairá<br />

daqui uma arte extremamente intelectualizada, deixan<strong>do</strong> de la<strong>do</strong> o sentimentalismo<br />

romântico, mas sem cair na necessidade das buscas de exatidão e leis <strong>do</strong> Realismo e<br />

6 “Além de respeitar os valores românticos, o ideário simbolista transfigurou-os, levan<strong>do</strong>-os às<br />

últimas conseqüências.” (MOISÉS, Massaud. O simbolismo. São Paulo: Cultrix, 1984. 4.)

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