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texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

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Uma coisa devo dizer-lhe que me falta para que eu possa sentir o mais ditoso <strong>do</strong>s mortaes:<br />

é um pouco mais de solidão nesta sala... Outra coisa: o que me impede agora de ter aqui<br />

uma verdadeira bemaventurança é... um colega rabequista que se aboletou, ha dias, ahi<br />

pelas immediações... Doutor! por caridade!... Esse homem nos mata!... Digo-lhe franco: si<br />

não lhe arrebentam essa matraca, deixam-me no risco, <strong>do</strong>utor, de assassinar de repente a<br />

um irmão... (POMBO, 1905, 47)<br />

Ocorre, em No hospício, além da defesa da sugestão (como foi apontada<br />

anteriormente), o questionamento sobre a forma <strong>do</strong> <strong>texto</strong>. Em primeiro lugar, quan<strong>do</strong> o<br />

narra<strong>do</strong>r pensa em mandar o seu poema para Fileto, sente receios que o interno tenha<br />

ressalvas quanto ao verso e a métrica. Nesse con<strong>texto</strong>, ocorre a defesa <strong>do</strong> verso livre,<br />

buscan<strong>do</strong> definir que o verso só deve ser usa<strong>do</strong> se ele soar como natural.<br />

O symbolo, que é espiritual, pode, não ha duvida, viver sob a fórma <strong>do</strong> verso; mas então o<br />

verso é como si não existisse. Dai-me palavras, grandes palavras, mesmo em versos, si em<br />

versos ellas couberem; mas não me reciteis apenas palavras medidas. Digo-vos, em<br />

summa, que nem to<strong>do</strong>s os Homeros <strong>do</strong> Occidente me diriam o que está, não dizen<strong>do</strong>, mas<br />

suggerin<strong>do</strong> um versículo da Biblia. (POMBO, 1905, 28)<br />

E, juntamente com esse questionamento, de forma esparsada, como foi aponta<strong>do</strong><br />

no primeiro capítulo, por to<strong>do</strong> o romance busca-se uma tática de não apresentar nada de<br />

forma direta. Nada é apresenta<strong>do</strong> às claras, de forma objetiva. Nem os corre<strong>do</strong>res, nem<br />

as personagens, nem o tempo, em suma, nada aparece com clareza. Não se pode ter<br />

certeza objetiva de praticamente nada <strong>do</strong> que aparece no romance. Essa provavelmente<br />

é a característica simbolista mais bem desenvolvida no romance. As duas almas (<strong>do</strong><br />

narra<strong>do</strong>r e de Fileto) somente podem se comunicar porque não vão para as alturas<br />

solitárias. Essa é mais uma superação em relação ao Simbolismo presente no romance.<br />

Ao mesmo tempo em que as almas se isolam de con<strong>texto</strong>s sociais amplos, e, por se<br />

elevarem cada vez mais, acabam encastelan<strong>do</strong>-se em torres de marfim, é possível para<br />

elas, ao reconhecerem espíritos eleva<strong>do</strong>s, que venham ao seu encontro. Desta forma,<br />

Rocha Pombo não trabalha com o Simbolismo de uma forma estéril, mas aponta para<br />

uma possibilidade de superação da incomunicabilidade que o Simbolismo colocou a arte<br />

(e também a vida). Mesmo sen<strong>do</strong> impossível a compreensão completa de um outro ser,<br />

é possível o diálogo entre seres que se reconhecem, que se correspondem.<br />

Em Às Avessas, o romance segue toda uma linhagem de pensameto concretizada<br />

na biblioteca da personagem des Esseintes. Da mesma forma, essa filiação de<br />

pensamento também é construída para o narra<strong>do</strong>r <strong>do</strong> romance <strong>do</strong> escritor paranaense. A<br />

idealização da Cidade Futura proposta pelo narra<strong>do</strong>r, onde to<strong>do</strong>s os seres humanos<br />

seguiriam as regras de Jesus, se liga com a possibilidade de construção de um mun<strong>do</strong><br />

perfeito caracteriza<strong>do</strong>, por exemplo, em Utopia, de Tomas MORUS (1997). Ainda<br />

liga<strong>do</strong> com essa obra, o mesmo embasamento está presente em ambas. Continuan<strong>do</strong><br />

com a questão da filiação de pensamento, a idéia <strong>do</strong> narra<strong>do</strong>r de partir de pequenos<br />

núcleos que seriam responsáveis pela difusão <strong>do</strong>s preceitos morais justos para a vida,<br />

excluin<strong>do</strong> o que fosse de pejudicial a eles e fazen<strong>do</strong> com que, desde a mais tenra<br />

infância, as pessoas já tenham contato com esse modelo perfeito de moral, pode-se<br />

aproximar o narra<strong>do</strong>r da figura de Sócrates, que está presente em A República, de<br />

PLATÃO (2000). Nesta obra, Sócrates propõe (no livro II) a construção de uma<br />

sociedade perfeita e, então, justa. Sua explicação parte de uma pequena vila de apenas

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