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texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

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entender como elas são estruturadas e utilizadas. Assim como em um <strong>texto</strong> literário, é<br />

necessário que a justificativa dada à vida possua uma unidade forte que lhe dê coerência<br />

e que possa criar uma sensação de verdade. Se essas idéias começam a se contradizer,<br />

acabam por desestruturar toda a justificativa para uma vida. É nisso que o narra<strong>do</strong>r<br />

trabalhará. Até que ponto as idéias de Fileto são sustentáveis por elas mesmas. O<br />

suporte das idéias não pode ser da<strong>do</strong> pelo externo, mas somente pelo próprio discurso.<br />

Mesmo que desde o início <strong>do</strong> romance o narra<strong>do</strong>r revele ter um grande carinho<br />

para com Fileto, seu objetivo é de colocar em confronto duas moralidades, no intuito de<br />

descobrir se a que ele trazia consigo era suficientemente forte para apresentar-se diante<br />

de uma outra moralidade. A forma que esse confronto ocorre no romance é através de<br />

como o narra<strong>do</strong>r vai crian<strong>do</strong> em Fileto uma ligação íntima na sua figura, ao mesmo<br />

tempo em que vai fazen<strong>do</strong> ruir o mun<strong>do</strong> que Fileto havia estrutura<strong>do</strong>. Quanto mais<br />

íntimo de alguma coisa externa a si, como é o caso de Fileto em relação ao narra<strong>do</strong>r,<br />

menor a possibilidade da existência da vida artística, entendida, aqui, como a<br />

possibilidade de por si próprio definir os parâmetros para o mun<strong>do</strong> e, desta forma, ser a<br />

sua única justificativa.<br />

A vida artística, enquanto uma construção pessoal para justificar a existência, é<br />

marcada por não possuir uma teleologia metafísica. Enquanto teleologia metafísica,<br />

entende-se o colocar da razão para a existência da vida fora da própria vida. Seria<br />

buscar um suporte para a vida que a transcendesse. Em uma vida artística, a vida se<br />

justifica por si mesma, pelo seu próprio presente, tornan<strong>do</strong> o ser artístico um<br />

contempla<strong>do</strong>r da realidade que ele pode vislumbrar. Fileto é um contempla<strong>do</strong>r no início<br />

da narrativa. E, enquanto contempla<strong>do</strong>r, ele compreende a realidade e sabe como se<br />

harmonizar com o mun<strong>do</strong> que criou para si.<br />

Recolhi<strong>do</strong> á minha cellula, examino a minha situação com uma exacta consciencia <strong>do</strong><br />

caso. Era preciso que, por minha vez, me revelasse tambem a Fileto: só a (sic) almas<br />

sabem amar as almas. Como é, porém, que me hei de manifestar áquelle espirito?<br />

Encontran<strong>do</strong>-me com elle, sem duvida; pon<strong>do</strong>-me tambem erecto, amplo, augusto, como<br />

um esplen<strong>do</strong>r ante outro esplen<strong>do</strong>r. No emtanto, conviria escolher meios propicios.<br />

Deveria eu porventura, pensar em vencer, de surpreza, as reluctancias de uma alma que<br />

parece tão complicada; ou mesmo, em neutralisar, com imprevistos contrastes, a repulsa<br />

daquelle ente? Ou seria preferivel ficar de accor<strong>do</strong> com elle, sereno, pacifico, inalteravel,<br />

numa harmonia absoluta com o seu mo<strong>do</strong> de ser? (POMBO, 1905, 21-22)<br />

Com o passar <strong>do</strong> tempo na narrativa, o narra<strong>do</strong>r vai mostran<strong>do</strong> que elementos de<br />

impaciência são apresenta<strong>do</strong>s no comportamento de Fileto. A impaciência marca a<br />

vontade de não vivenciar o presente, mas estar ansioso pela chegada de um futuro

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