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texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

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aspiro a minha grande paz é que tenho ciumes da minha loucura. (...) O meu logar é aqui<br />

mesmo. Devo a meu espirito esta prova de que nunca o renunciei: fico em meu logar. Aqui<br />

tenho a minha Palestina: em Jerusalem não sei si teria a minha paz. (...)” (POMBO, 1905,<br />

268-270)<br />

Entretanto, Nietzsche aban<strong>do</strong>na o combate entre Dionísio e Sócrates, e<br />

levanta a oposição entre Dionísio e Cristo. A fundamentação dada para as coisas, a<br />

partir <strong>do</strong> cristianismo, é sempre feita, em última instância, por uma divindade.<br />

Aqui, certas sutilezas são necessárias. A existência de uma pluralidade<br />

imensa de deuses, representativos de valores terrenos, como o trovão, a chuva, o<br />

amor, o desejo, a loucura, não excluem uma certa metafísica. Mas essa<br />

transcendência grega tem como fundamento último o próprio homem 12 . A morte<br />

<strong>do</strong>s Titãs e a ascendência <strong>do</strong>s deuses olímpicos fez com que o “céu” grego fosse<br />

povoa<strong>do</strong>, se não por homens, pelo menos por representações <strong>do</strong>s homens. Com<br />

esses deuses era possível a convivência, a argumentação, a própria negação. O<br />

mito de Prometeu explicita uma consciência muito diferente da que virá depois na<br />

religião monoteísta cristã: a queda, o destino, chegará a to<strong>do</strong>s, inclusive os deuses,<br />

uma vez que são criações humanas. Prometeu sabe que um dia, não importa<br />

quan<strong>do</strong>, indiferente de quanto tempo leve, Zeus será destrona<strong>do</strong> 13 . Um dia, os<br />

12 É possível pensar a metafísica cristã também fundamentada sobre o próprio homem, se se pensar que o<br />

Deus cristão pode ter si<strong>do</strong> cria<strong>do</strong> à imagem e semelhança <strong>do</strong>s homens que o necessitavam. Um Deus<br />

forte, uno, eterno e repressor poderia ser nada mais <strong>do</strong> que os desejos de uma moralidade que precisava,<br />

para compreender o mun<strong>do</strong>, criar esse ser. Mas, no caso <strong>do</strong> cristianismo, essa fundamentação de Deus nos<br />

homens, mesmo que possível, não é levada em conta. Na verdade, a criação de um Deus superior, com o<br />

qual não é possível o confronto, necessita <strong>do</strong> esquecimento de sua criação. Essa é uma tese defendida por<br />

Nietzsche na Genealogia da Moral, quan<strong>do</strong> fala sobre o esquecimento da origem humana das causas<br />

primeiras, explicitan<strong>do</strong> a necessidade de sofrimento para a consolidação de um homem tal qual ele se<br />

encontra.<br />

13 CORO – (...)<br />

A escolha deles é como uma guerra / difícil de enfrentar, que nos promete / apenas desespero,<br />

pois nos faltam / as mínimas condições de defesa. / A vontade de Zeus é irresistível.<br />

PROMETEU (Depois de um longo silêncio.)<br />

Minha resposta é esta: há de chegar o dia / em que, malgra<strong>do</strong> a pertinácia de sua alma, / Zeus<br />

passará a ser extremamente humilde, / pois os festejos nupciais já prolonga<strong>do</strong>s / custar-lhe-ão<br />

o fim <strong>do</strong> trono e <strong>do</strong> poder / com seu inevitável aniquilamento; / será então inteiramente<br />

consumada / a maldição de seu pai, Cronos, contra ele. / E nenhum deus além de mim será<br />

capaz / de revelar-lhe com total clareza o meio / de conjurar o seu desastre e perdição! /<br />

Somente eu tenho a ciência <strong>do</strong> porvir / e o poder de evitar sua consumação. / Depois, se ele<br />

quiser, troveje sem parar / fian<strong>do</strong>-se no estron<strong>do</strong> que satura os ares, / agitan<strong>do</strong> nas mãos o<br />

dar<strong>do</strong> afoguea<strong>do</strong>; / nenhum socorro o impedirá de despenhar-se / ignobilmente numa queda<br />

inevitável, / tão formidável há de ser seu adversário / que a esta hora já começa a preparar-se,<br />

/ prodigioso ser com quem a luta é árdua, / descobri<strong>do</strong>r de um fogo muito mais potente / que<br />

os raios dele e de um estron<strong>do</strong> colossal, / capaz de sobrepor-se até ao seu trovão / (diante dele<br />

o próprio flagelo marinho / que abala a terra – sim, refiro-me ao tridente, / arma de Possei<strong>do</strong>n<br />

– voará em pedaços). / No dia em que afinal for atingi<strong>do</strong> o alvo / e tiver fim a minha longa<br />

provação, / Zeus ficará saben<strong>do</strong> qual é a distância / imensurável entre reinar e servir!

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