texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná
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ANEXO 06<br />
POMBO, Rocha. No hospício. Rio de Janeiro: Garnier, 1905. p. 268-270.<br />
CARTA FINAL DE FILETO<br />
“Meu caro amigo. – Apresso-me em escrever-lhe, para pedir-lhe que não<br />
despenda inutilmente seus esforços por mim e que não creia na lucidez <strong>do</strong> meu<br />
espirito. Eu já estou resigna<strong>do</strong> a passar aqui como um simples <strong>do</strong>i<strong>do</strong>. Cessada a<br />
exaltação destes ultimos dias, minha alma se acha exhausta de coragem para o<br />
mun<strong>do</strong>. Sinto que o hospicio é mesmo o meu logar e começo a crer no bom senso<br />
de meus pais. Não sei o que é que me voltou: si a saude, si a <strong>do</strong>ença antiga. O que<br />
é verdade é que depois que nos separamos passei a ser de novo o mesmo homem,<br />
incapaz de ser homem como seria preciso sel-o no meio <strong>do</strong>s homens. Eu estava<br />
transtorna<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> sonhei com o Oriente. Que iria eu fazer em Jerusalem? Não<br />
encontraria ali porvemtura os mesmos motivos de tristeza que por aqui me<br />
venceram? Quem me diz que ali mesmo, na terra sagrada pelo sangue de Jesus, eu<br />
não seria ainda mais desventura<strong>do</strong>, a olhar em torno de mim as grandes miserias da<br />
vida! Em summa: não sei, meu caro amigo. Tenho no fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> coração um tedio<br />
invencivel por tu<strong>do</strong>. O tempo me parece um grande supplicio. Nada enten<strong>do</strong> de<br />
mim proprio. A minha consciencia como que tem uma nuvam ai escurecel-a. ficar<br />
só, em silencio, mu<strong>do</strong>, eternamente mu<strong>do</strong> e immovel, numa immobilidade de larva<br />
a espera de novo ser que está crean<strong>do</strong>: eis o que antes de tu<strong>do</strong> aspiro agora na vida.<br />
Não ha nada mais, não ha mais ninguem que me dissuada de que os ares <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />
me fariam muito mal. Vou-me tão bem nesta sombra, meu caro... e sabe porque? É<br />
simples: porque aqui tenho as mortificações, as amarguras, as anciedades que<br />
talvez o mun<strong>do</strong> eliminasse ou dispersasse <strong>do</strong> meu coração. Porque aspiro a minha<br />
grande paz é que tenho ciumes da minha loucura. Sem esta – quem me diz que eu<br />
não me distrahiria <strong>do</strong> descanso final? Descanso, digo eu... mas como posso eu<br />
saber si é descanso o que aspiro? Seja como for, no emtanto – o que espero<br />
impaciente é o tremo desta phase <strong>do</strong> meu ser. A curiosidade da morte é a unica que<br />
me <strong>do</strong>mina neste instante. Ah! si eu pudesse apressar o momento de fechar os<br />
ollhos (sic) para este mun<strong>do</strong> e de saber o que é o outro! O outro mun<strong>do</strong>! – que