texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná
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1975), em O corvo (ANEXO 07), o que se pode ver é o mun<strong>do</strong> externo não mais<br />
apontan<strong>do</strong> para uma transcendência, mas para a subjetividade, para a introspecção. O<br />
mun<strong>do</strong> externo ao sujeito nada mais é <strong>do</strong> que um caminho para que o indivíduo chegue<br />
a si mesmo. Este mun<strong>do</strong> não é diferente <strong>do</strong> que se é intimamente. Existe uma<br />
correspondência, não mais entre o mun<strong>do</strong> terreno e o espiritual, mas entre mun<strong>do</strong> e<br />
espírito, entenden<strong>do</strong> espírito aqui como aquilo que forma o ser, integran<strong>do</strong>, totalmente,<br />
a sua materialidade, e não mais como algo metafísico que não participa <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />
concreto, a não ser por uma ligação com este.<br />
O terror <strong>do</strong> poema O corvo (tradução de Macha<strong>do</strong> de Assis) não está em<br />
imagens assombrosas (“Em certo dia, à hora, à hora/Da meia-noite que apavora”), que<br />
vem para o mun<strong>do</strong> para julgar os viventes (“Repouso (em vão!) à <strong>do</strong>r<br />
esmaga<strong>do</strong>ra/Destas saudades imortais/Pela que ora nos céus anjos chamam Lenora./E<br />
que ninguém chamará mais”), ou em imagens grotescas que fogem das possibilidades<br />
naturais <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. O que ocorre é um distanciamento <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, mas não uma fuga <strong>do</strong><br />
mun<strong>do</strong>, como era típico no Romantismo. O distanciamento se dá pelo encontro <strong>do</strong><br />
espírito com o mun<strong>do</strong> (“Sorriu-me o triste pensamento”). Uma sensação interna que<br />
jamais fora sentida e que passa a ser algo que não se pode mais negar (“Dentro em meu<br />
coração um rumor não sabi<strong>do</strong>,/Nunca por ele padeci<strong>do</strong>.”). Não é mais possível se livrar<br />
dessa queda em si mesmo (“Até que eu murmurei: ‘Perdi outrora/Tantos amigos<br />
leais!/Perderei também este em regressan<strong>do</strong> a aurora’./E o corvo disse: Nunca mais!”).<br />
Mas, uma vez que o espírito se encontra no mun<strong>do</strong>, toda a transcendência é perdida.<br />
Com longo olhar escruto a sombra,<br />
Que me amedronta, que me assombra,<br />
E sonho o que nenhum mortal há já sonha<strong>do</strong>,<br />
Mas o silêncio amplo e cala<strong>do</strong>,<br />
Cala<strong>do</strong> fica; a quietação quieta;<br />
Só tu, palavra única e dileta,<br />
Lenora, tu, como um suspiro escasso,<br />
Da minha triste boca sais;<br />
E o eco, que te ouviu, murmurou-te no espaço;<br />
Foi isso apenas, nada mais.<br />
Não há mais chance de um reencontro, não há mais chance para uma redenção.<br />
“Profeta, ou o que quer que sejas!<br />
Ave ou demônio que negrejas!<br />
Profeta sempre escuta: Ou venhas tu <strong>do</strong> inferno<br />
Onde reside o mal eterno,<br />
Ou simplesmente náufrago escapa<strong>do</strong><br />
Venhas <strong>do</strong> temporal que te há lança<strong>do</strong><br />
Nesta casa onde o Horror, o Horror profun<strong>do</strong>