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texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

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om e de outro o mal; de um la<strong>do</strong> Deus, de outro o demônio; de um la<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong><br />

terreno, de outro o espiritual. E esses mun<strong>do</strong>s não deveriam se confundir. Cada um<br />

ocupava um lugar na grande construção <strong>do</strong> universo. E à Igreja foi da<strong>do</strong> o poder de<br />

determinar o que deveria ser coloca<strong>do</strong> em um mun<strong>do</strong> e o que deveria ser isola<strong>do</strong><br />

em outro. Ela possuía o poder de determinar a verdade e a mentira, e, desta forma,<br />

o racional e o irracional, a sanidade e a loucura. Entretanto, desde o momento de<br />

crise dessa Igreja, que se inicia na baixa Idade Média e ganha cada vez mais<br />

consistência com o decorrer <strong>do</strong> tempo, desde o Renascimento até o momento em<br />

que a narrativa se passa, essa mesma Igreja perde grande parte de seu poder de<br />

determinar o discurso <strong>do</strong>minante na sociedade. Ela não será excluída das esferas de<br />

poder, em grande parte ainda frutos de toda uma estruturação cultural constituída<br />

por ela (NIETZSCHE, 1997) e às quais ela conhece profundamente a sua dinâmica.<br />

Mas será deixada para segun<strong>do</strong> plano quanto à formação de um discurso primário<br />

defini<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s processos de consolidação <strong>do</strong> pensamento, ou seja, perderá o poder<br />

de definir o discurso hegemônico na sociedade, mesmo que esse se funde sobre<br />

estruturas que ela própria havia lança<strong>do</strong> anteriormente (FOUCAULT, 2000b). Esse<br />

poder passará a um outro conjunto social defini<strong>do</strong> por critérios racionais: a ciência.<br />

Assim que soror Thereza mostrar ao narra<strong>do</strong>r os caminhos que ele deve seguir,<br />

chega a hora de ele tratar diretamente com quem tem o poder de determinar a realidade:<br />

o cientista. É ele que tem o poder de decidir o que está livre nesse mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> final <strong>do</strong><br />

século XIX e o que deve estar recluso no outro. Essa postura é algo tão forte, que o<br />

próprio narra<strong>do</strong>r, saben<strong>do</strong> que a sua passagem de <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> da sanidade para o da<br />

loucura se dá como uma estratégia de seu jogo de compreensão <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> de Fileto, ele<br />

também sente-se diferente somente pelo fato <strong>do</strong> médico o considerar louco. Da mesma<br />

forma como Fileto não discute sobre a sua ida ao hospício, não enfrentan<strong>do</strong> uma voz<br />

que possui um poder de determinar a sua vida (no caso de Fileto é o pai), pode-se ver<br />

essa imperatividade de uma voz externa determinan<strong>do</strong> padrões de conduta no narra<strong>do</strong>r<br />

também. Quan<strong>do</strong> o médico o considera louco, o narra<strong>do</strong>r sente-se mais louco, um louco<br />

mais autêntico porque contan<strong>do</strong> com a confirmação de uma voz que possui poder de<br />

determinar categorias classificatórias no mun<strong>do</strong> moderno. Isso não quer dizer que o<br />

narra<strong>do</strong>r efetivamente precisasse dessa confirmação externa, mas ela vem dar maior<br />

autenticidade ao novo papel que o narra<strong>do</strong>r passará a desempenhar no mun<strong>do</strong>.

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