texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná
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omance, beleza, eloqüência, renovação, tu<strong>do</strong> isso está presente no filósofo, mas<br />
também loucura, destruição, completa ausência de lógica e raiva são ingredientes que<br />
acabam por caracterizar toda essa obra também dentro da narrativa de Rocha Pombo. E<br />
isso a tal ponto de pouco se preocupar em se refutar o pensamento de Nietzsche, pois,<br />
uma vez que a narrativa caminha de um momento mais niilista para outro<br />
marcadamente cristão e redentor, apenas o enuncia<strong>do</strong> de das idéias de Nietzsche negam<br />
a si mesmas, forçan<strong>do</strong> a voz <strong>do</strong> filósofo ao silêncio que dá forças às posições escolhidas<br />
por quem detêm a força enunciativa.<br />
Assim o narra<strong>do</strong>r manipula o <strong>texto</strong> de forma a parecer ao leitor ingênuo tão óbvio e tão de<br />
comum acor<strong>do</strong> que Nietzsche e Comte são <strong>do</strong>is malucos, pelo menos quan<strong>do</strong> se opõem ao<br />
pensamento cristão, que nem é necessário tentar contra-argumentar para refutá-los! (Fragmenta,<br />
PEIXOTO, 1997, 91)<br />
Para o narra<strong>do</strong>r de No Hospício, a fundamentação da vida já é dada por um ser<br />
superior a ele, Deus. A vida é fundamentada metafisicamente. O que ele busca é um<br />
propósito para a vida, o que acaba sen<strong>do</strong> encontra<strong>do</strong> na busca de espíritos eleva<strong>do</strong>s, com<br />
os quais ele possa colocar em conflito a sua moralidade (cristã) com a desses espíritos<br />
livres. Já, na obra de Nietzsche, há uma incessante busca da fundamentação <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e<br />
da vida, o que percorre todas as três fases de sua obra 8 . Em um primeiro momento,<br />
muito influencia<strong>do</strong> por Wagner, acredita em uma busca estética sobre a possibilidade de<br />
fundamentação da vida. Essa busca estética nunca será aban<strong>do</strong>nada, mas a ligação com<br />
Wagner será revista. O músico alemão, que em um primeiro momento pareceu ser, aos<br />
olhos de Nietzsche, a possibilidade <strong>do</strong> ressurgir da tragédia, acabou por se mostrar<br />
como um nacionalista e um anti-semita, trabalhan<strong>do</strong> para a consolidação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e <strong>do</strong><br />
povo alemão. No momento posterior, desligan<strong>do</strong>-se da influência exercida por Wagner,<br />
Nietzsche buscará, na ciência, a possibilidade de encontrar a explicação da vida. Sob a<br />
influência forte de Augusto Comte, o filósofo alemão construirá uma teoria sobre a<br />
possibilidade de encontrar no mun<strong>do</strong> objetivo estuda<strong>do</strong> pelo méto<strong>do</strong> científico uma<br />
forma humana de construir a realidade. E, finalmente, em sua última fase, caracterizada<br />
por uma filosofia mais autônoma em relação aos seus pares e de maior maturidade,<br />
8 “O primeiro perío<strong>do</strong>, em que se revela a influência da filosofia de Schopenhauer e das idéias de Wagner,<br />
abrande os escritos redigi<strong>do</strong>s entre 1870 e 1876. (...) O segun<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> da obra de Nietzsche, em que<br />
fica clara a influência que ele sofreu das idéias de Augusto Comte, compreende os <strong>texto</strong>s elabora<strong>do</strong>s entre<br />
1876 e 1882. (...) O terceiro perío<strong>do</strong> da obra, em que Nietzsche, por fim, elabora de forma consistente sua<br />
própria filosofia, engloba os <strong>texto</strong>s escritos de 1882 a 1888.” (MARTON, 1993, 78-89).