texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná
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justificativa metafísica para ele, sen<strong>do</strong>, então, necessário que cada um <strong>do</strong>s seres<br />
não somente compreenda, mas construa as relações que devem ser feitas para a sua<br />
justificativa. E essa possibilidade de justificar o mun<strong>do</strong> não é mais um caminhar<br />
em direção à verdade como algo absoluto, mas a uma verdade provisória que serve<br />
para justificar a vida para cada um <strong>do</strong>s seres, mas jamais é idêntica entre à visão de<br />
um e <strong>do</strong>s outros seres.<br />
E é nessa tentativa de buscar uma moral coletiva, que defina o bem comum<br />
de uma comunidade que o romance de Rocha Pombo se afasta da estética<br />
simbolista, aproximan<strong>do</strong>-se um pouco das propostas de reforma social, muito<br />
presentes em <strong>texto</strong>s com embasamento positivista. Entretanto, essa abordagem,<br />
trabalhada no segun<strong>do</strong> capítulo, apresenta um outro la<strong>do</strong>, agora de aproximação<br />
com o Simbolismo. A busca de realização de uma vida artística, transforman<strong>do</strong> o<br />
mun<strong>do</strong> e a sua própria vida em obra de arte é o objetivo prega<strong>do</strong> de forma geral.<br />
Rocha Pombo, ao escrever No hospício, faz com que suas personagens defendam<br />
uma certa estética, tanto em forma de discurso interno ao <strong>texto</strong>, como na própria<br />
constituição da obra. O objetivo da arte defendi<strong>do</strong> em No hospício é o de produzir<br />
obras de arte, enquanto objetos que se diferenciam materialmente de seus<br />
produtores, sen<strong>do</strong>, então reflexos sugeri<strong>do</strong>s <strong>do</strong> que aquele artista entende ser o<br />
mun<strong>do</strong>. Isso está muito próximo da estética simbolista.<br />
Nesse ponto, Rocha Pombo usará como contra-ponto a filosofia<br />
nietzschiana que, apesar de possuir vários pontos de contato com as idéias<br />
simbolistas, difere-se delas em uma questão central. Ambas estéticas trabalham<br />
pelo viés <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> individual, subjetivo e vago, mas, enquanto o Simbolismo<br />
defende a construção de obras que apontem, sugiram sensações sobre o mun<strong>do</strong> e o<br />
ser que as cria, em Nietzsche o que se encontra é algo diverso em relação à arte.<br />
Em Nietzsche, como trabalha<strong>do</strong> no terceiro capítulo, a arte tem por função<br />
propiciar a construção <strong>do</strong> Übermench, <strong>do</strong> além-<strong>do</strong>-homem. A arte é uma forma de<br />
superação da condição humana e não de elevação dessa condição. O artista não<br />
deve produzir obras, mas deve ser a sua própria obra construída. A criação própria<br />
de to<strong>do</strong> o universo será colocada como a única alternativa capaz de vencer o<br />
niilismo completo. Uma vida construída como uma obra de arte, na qual tu<strong>do</strong><br />
deveria fazer senti<strong>do</strong> dentro de um espírito livre. A construção de uma vida<br />
artística teria que, necessariamente, acabar com os vínculos sociais, pelo menos os<br />
construí<strong>do</strong>s dentro de uma sociedade burguesa, cujo principal objetivo é o de