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texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

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público muito mais amplo (e com uma erudição muito menor), como era o público<br />

burguês. Mas não era também a questão de se render a uma ditadura da prosa, mas de<br />

buscar uma expressão mais franca <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Buscava-se uma escrita que eles<br />

julgassem mais natural e próxima da vida.<br />

Hesitamos em considerar o verso como um <strong>do</strong>s meios mais próprios para preservar o<br />

drama <strong>do</strong> flagelo que acabamos de assinalar, como um <strong>do</strong>s diques mais poderosos contra a<br />

irrupção <strong>do</strong> comum, que assim como a democracia, corre transbordante nos espíritos. (...)<br />

Concluíram, talvez um pouco precipitadamente, que o drama devia ser escrito em prosa.<br />

(...) Se tivéssemos o direito de dizer qual poderia ser, em nosso gosto, o estilo <strong>do</strong> drama,<br />

quereríamos um verso livre, franco, leal, que ousasse tu<strong>do</strong> dizer sem hipocrisia, tu<strong>do</strong><br />

exprimir sem rebuscamento e passasse com um movimento natural da comédia à tragédia,<br />

<strong>do</strong> sublime ao grotesco; alternadamente positivo e poético, ao mesmo tempo artístico e<br />

inspira<strong>do</strong>, profun<strong>do</strong> e repentino, amplo e verdadeiro; que soubesse quebrar a propósito e<br />

deslocar a cesura para disfarçar sua monotonia de alexandrino; mais amigo <strong>do</strong><br />

enjambement que o alonga que da inversão que o embaraça; fiel à rima, esta escrava<br />

rainha, esta graça suprema de nossa poesia, este gera<strong>do</strong>r de nosso metro; inesgotável na<br />

variedade de seus giros, inapreensível nos seus segre<strong>do</strong>s de elegância e de execução; a<br />

tomar como Proteu, mil formas sem mudar de tipo e de caráter, evitan<strong>do</strong> a tirada; divertise<br />

no diálogo; ocultar-se sempre atrás da personagem; ocupar-se antes de mais nada com<br />

estar em seu lugar, e quan<strong>do</strong> lhe acontecesse ser belo, sê-lo apenas de alguma forma, por<br />

acaso, contra a vontade e sem sabê-lo; lírico, épico, dramático, segun<strong>do</strong> a necessidade;<br />

poder percorrer toda a gama poética, ir de alto a baixo, das idéias mais elevadas às mais<br />

vulgares, das mais bufas às mais graves, das exteriores às mais abstratas, sem jamais sair<br />

<strong>do</strong>s limites de uma cena falada; numa palavra, tal como faria o homem a quem uma fada<br />

tivesse <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> com a alma de Corneille e a cabeça de Molière. Parece-nos que este verso<br />

seria de fato tão belo quanto a prosa. (HUGO, Victor; 71-78)<br />

Essas idéias serão retrabalhadas por estéticas que sucederão o Romantismo,<br />

como o Naturalismo, mas por um outro viés. O Naturalismo buscará aprofundar a<br />

ênfase dada na questão da racionalidade, não mais entendida enquanto uma<br />

racionalidade ou uma categoria que ordenava to<strong>do</strong> o universo como uma força<br />

mística, mas buscará uma justificativa material para a razão. Essa justificativa será<br />

colocada sobre o méto<strong>do</strong> científico, que tomará como base as ciências naturais e<br />

delas procurará encontrar as leis que governam os seres. Ou seja, enquanto o<br />

Romantismo buscará em certos preceitos toma<strong>do</strong>s como universais<br />

(individualidade, liberdade, igualdade) os fundamentos de sua racionalidade,<br />

caracterizan<strong>do</strong>-se, desta forma, como um pensamento idealista, o Naturalismo se<br />

pautará sobre o méto<strong>do</strong> científico para a formulação de seu modelo racional. Na<br />

verdade, um modelo tão idealiza<strong>do</strong> quanto o romântico, só que ao utilizar como<br />

base leis generalizáveis <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> físico (ten<strong>do</strong> como base duas disciplinas que<br />

ganharam um porte de verdades: a física e a biologia).

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