texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná
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Em uma das poucas vezes que as personagens concordam com Nietzsche, Fileto<br />
escreve em seu caderno que o posicionamento sobre a História a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> por<br />
Nietzsche é correto. Entretanto, o que a personagem entende que Nietzsche disse é<br />
que deveria ser preserva<strong>do</strong> somente o que era grande no mun<strong>do</strong>, os grandes feitos,<br />
os heróis. Para Nietzsche, não era esse o posicionamento que deveria ser a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>,<br />
mas perceber que toda a História é uma grande construção que busca manter uma<br />
justificativa para o presente, critican<strong>do</strong>, desta forma, o que é feito com a História.<br />
XXVIII. – “Não é sinão pela maior força <strong>do</strong> presente que deve ser interpreta<strong>do</strong> o passa<strong>do</strong>;<br />
não é sinão pela mais forte tensão de vossas faculdades mais nobres que adivinhareis o<br />
que, no passa<strong>do</strong>, é digno de ser conheci<strong>do</strong> e conserva<strong>do</strong>...” Aqui, sim: <strong>do</strong>u meus applausos<br />
a Nietzsche. A historia não é simples narração de factos, e, daqui por diante, ha de ser uma<br />
especie de epopéa humana, cujos cantos serão forma<strong>do</strong>s de tu<strong>do</strong> que de mais heroico tiver<br />
feito o homem no planeta. Só conservaremos o que for grande. (POMBO, 1905, 133)<br />
Fileto, aproveitan<strong>do</strong> a fala de Nietzsche sobre o belo, a transforma e amplia a sua<br />
dimensão, fazen<strong>do</strong> com que ela chegue a dar conta de to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>. Faz com que<br />
a noção de beleza seja o suporte de toda a ontologia <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. O mun<strong>do</strong> to<strong>do</strong> é<br />
construí<strong>do</strong> como Nietzsche percebeu que a beleza é construída. Sempre por um<br />
panorama individual, que faz com que toda a realidade se deforme aos olhos<br />
daquele que a olha.<br />
XXXII. – “Nada é mais condicional, digamos mais restricto, que o nosso senso de bello.”<br />
– diz Nietzsche. O que elle diz <strong>do</strong> seu bello, eu diria de to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> objectivo. “O Bello<br />
em si não é mais que uma palavra, nem é mesmo uma idéa. No bello, o homem se toma<br />
como medida de perfeição; em certos casos, elle se a<strong>do</strong>ra na perfeição a<strong>do</strong>rada...” Tu<strong>do</strong><br />
quanto é construcção <strong>do</strong> espirito humano, até hoje, deve ter cahi<strong>do</strong> para este homem. –<br />
Para mim, o bello, é mais espiritual <strong>do</strong> que sensitivo. Quan<strong>do</strong> se contempla e se admira o<br />
bello, suffraga-se alguma coisa mais que a belleza sensivel em si – talvez uma perfeição<br />
que se adivinha, que se sente sem comprehender, uma belleza que ha de vir. A creatura só<br />
entrou na phase da veneração quan<strong>do</strong> começou a amar o bello. (POMBO, 1905, 131-132)<br />
Em relação ao cristianismo, essa religião é tomada de tal forma no romance<br />
de Rocha Pombo como sen<strong>do</strong> a possibilidade de sustentação de uma sociedade<br />
mais justa, que a mera transcrição de trechos em que Nietzsche ataca o<br />
cristianismo, por si só, seriam suficientes para comprovar o absur<strong>do</strong> desses<br />
ataques.<br />
XXXIII. – É ainda de Nietzsche: “Chama-se o christianismo a religião da piedade. A<br />
piedade está em opposição com as affeições tonicas que elevam a energia <strong>do</strong> senso vital:<br />
ella opera de um mo<strong>do</strong> depressivo. Perde-se força quan<strong>do</strong> se tem dó.” E mais: “Quan<strong>do</strong><br />
não se colloca o centro de gravidade da vida na propria vida, mas no além – no nada, tem-