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texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

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ainda não está inserida nesse “mun<strong>do</strong> paralelo” <strong>do</strong> hospício, ainda é marcada de<br />

forma razoavelmente clara, o que ainda continua ocorren<strong>do</strong> nos primeiros dias de<br />

internação, mas que, pouco a pouco, vai se diluin<strong>do</strong> e tornan<strong>do</strong>-se vago, impreciso,<br />

a tal ponto que logo não se sabe mais quanto tempo se passou entre uma ação e<br />

outra. Em relação ao espaço, o mesmo ocorre, uma vez que ele não é descrito, mas<br />

apenas algumas sensações sobre ele são apresentadas, sugeridas. Já conseguida a<br />

confiança de Fileto para que o narra<strong>do</strong>r possa penetrar no mun<strong>do</strong> construí<strong>do</strong> pelo<br />

interno, as trocas de idéias se caracterizam, quase que exclusivamente, pelo<br />

eleva<strong>do</strong> nível erudito das discussões, o que contribui para a diluição das<br />

personagens nas idéias que elas discutem. Fala-se de teologia, literatura, filosofia,<br />

arte, sociedade e mais diversos outros temas que poderiam ser desmembra<strong>do</strong>s<br />

desses. Os debates que eles travam são típicos de romances intelectualistas, como<br />

era o caso <strong>do</strong> romance simbolista francês. A introspecção no eu se dá por um<br />

processo de romance cuja principal característica é a intelectualização o que, ao<br />

mesmo tempo dá uma idéia <strong>do</strong> que seria aquele ser e, ao mesmo tempo, faz com<br />

que ele não se mostre claramente.<br />

Entretanto, em No hospício, Rocha Pombo consegue desenvolver um tema<br />

que, ao mesmo tempo é aborda<strong>do</strong> pelo posicionamento simbolista, uma vez que as<br />

suas personagens envolvem-se em discussões intelectuais, mas que vai além desse<br />

modelo, questionan<strong>do</strong> padrões sociais não somente para criticá-los e buscar o<br />

isolamento, ao encarceramento na torre de marfim simbolista. O narra<strong>do</strong>r e Fileto<br />

discutem sobre a possibilidade de transformação social, com objetivo de construir<br />

um corpo social mais justo e com uma moral mais próxima da de Jesus, o que é<br />

considera<strong>do</strong>, por eles, como o melhor modelo de sociedade. Nesse modelo,<br />

acreditam, seria possível a convivência de espíritos eleva<strong>do</strong>s dentro de um corpo<br />

social, o que, até aquele momento em que estão enclausura<strong>do</strong>s no hospício, não era<br />

possível, sen<strong>do</strong> sempre necessário apartar-se da sociedade para que pudessem<br />

realizar os anseios de suas almas.<br />

Essa tentativa de construir um mun<strong>do</strong> pauta<strong>do</strong> pela forma individual de ver<br />

a realidade é uma busca intensa <strong>do</strong> final <strong>do</strong> século XIX. Seja em que área for,<br />

focos de questionamento sobre a efetiva possibilidade de existência <strong>do</strong>s absolutos<br />

estão sen<strong>do</strong> levanta<strong>do</strong>s. Na literatura, quan<strong>do</strong> as correspondências não mais fazem<br />

referência a um mun<strong>do</strong> que transcende a realidade tal como se estrutura ao re<strong>do</strong>r<br />

<strong>do</strong>s seres, mas ao próprio mun<strong>do</strong>, o que se tem é que não mais existe nenhuma

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