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texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

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de muito esforço e paciencia, e ha muitas palavras que nos foi impossivel decifrar, e até<br />

perio<strong>do</strong>s inteiros que tivemos de supprimir por inintelligiveis.<br />

Rio, junho 1901.)<br />

(POMBO, 1905, 1)<br />

O que é apresenta<strong>do</strong> ao leitor não é o <strong>texto</strong> <strong>integral</strong> escrito pelo narra<strong>do</strong>r, mas<br />

um <strong>texto</strong> em parte mutila<strong>do</strong> (assim como o narra<strong>do</strong>r faz com as outras personagens),<br />

recorta<strong>do</strong> por alguém externo ao <strong>texto</strong>. Isso é um artifício usa<strong>do</strong> para fazer pousar sobre<br />

o <strong>texto</strong> mais uma possibilidade de diluição, pois, o narra<strong>do</strong>r não aparece plenamente<br />

para o leitor, resultan<strong>do</strong> disso um ambiente mais esfumaça<strong>do</strong>.<br />

Ter si<strong>do</strong> obriga<strong>do</strong> a retirar alguns pedaços de um mun<strong>do</strong> estrutura<strong>do</strong>,<br />

metaforicamente pode ser visto como a impossibilidade de penetrar completamente<br />

dentro <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> outro. Por mais que se tente, mesmo com a boa vontade indicada<br />

nessa nota inicial, a tentativa não é suficiente, pois os seres – aquele que primeiramente<br />

estruturou a narrativa e o que agora vem a propagar a história – estão distancia<strong>do</strong>s entre<br />

si.<br />

Com isso, pode-se ver que o que havia si<strong>do</strong> previsto pelo narra<strong>do</strong>r para a postura<br />

<strong>do</strong> leitor, em parte não vem a ocorrer. O divulga<strong>do</strong>r <strong>do</strong> romance ainda manuscrito serve<br />

como o possível primeiro leitor desse <strong>texto</strong> (construção ficcional cuja aparência é de ser<br />

o editor <strong>do</strong> <strong>texto</strong>). Esse leitor, ao invés de fazer o que o narra<strong>do</strong>r havia previsto<br />

(“suppon<strong>do</strong> que o leitor vai encontrar, nestes pedaços, o mesmo espirito de vida que eu<br />

nelles encontrei.” (POMBO, 1905, 124)), esse virtual primeiro leitor mutila o <strong>texto</strong>,<br />

tanto quanto o próprio narra<strong>do</strong>r confessa ter feito com as falas e escritos das demais<br />

personagens.<br />

Essa discussão sobre a validade <strong>do</strong> registro escrito ser passa<strong>do</strong> para outros<br />

leitores que não pelo ser que o criou originalmente ocorre no decorrer da narrativa,<br />

quan<strong>do</strong> o narra<strong>do</strong>r discute com a personagem principal, Fileto, sobre a validade de<br />

escrever e esta argumenta que não vê utilidade para tal, uma vez que ninguém jamais<br />

terá realmente possibilidade de compreender o que se está queren<strong>do</strong> dizer. Fileto<br />

escrevia somente para que, no futuro, aquelas palavras pudessem chamar à sua memória<br />

as imagens que havia construí<strong>do</strong> para si.<br />

Dizia-me que só escrevia o que tinha na alma para consolar-se da vida; que votava um<br />

desdem soberano á gloria; que toda a fortuna <strong>do</strong> seu espirito consistia em sentir-se em<br />

harmonia com uma luz, um amor e uma belleza, que só podem ter existencia subjetiva e<br />

que se falseavam e morriam quan<strong>do</strong> tinham de viver fora... (...) bastava, para consolar-se<br />

que aquelle vago da sua palavra lhe restaurasse as télas já desmaiadas, para sentil-as de

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