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texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

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absoluto, a não ser para o indivíduo que o criou). E, como esse encontro deve ser<br />

pessoal, é possível ver, nesse momento, uma ligação entre a visão de arte<br />

defendida por Nietzsche e a crise da linguagem que irá se instalar no final <strong>do</strong><br />

século XIX e início <strong>do</strong> século passa<strong>do</strong>. O que Nietzsche propõe é a necessidade <strong>do</strong><br />

filósofo agir como artista, de não ficar buscan<strong>do</strong> as explicações para a vida fora da<br />

vida, mas nela mesma. E, desta forma, a única justificativa para a vida seria<br />

intransferível, como a experiência da arte.<br />

Em um mun<strong>do</strong> cada vez mais técnico e, por isso, mais niilista 33 , o<br />

afastamento <strong>do</strong>s seres acaba se dan<strong>do</strong> de forma mais e mais forte. A fonte de<br />

origem <strong>do</strong> niilismo europeu é o próprio cristianismo (NIETZSCHE, 1997, 118-<br />

119). A incompreensão <strong>do</strong> diferente, as múltiplas visões sobre o mesmo passam a<br />

ser sufocadas e, com isso, reduzidas a um ponto mediano. O que parece ser uma<br />

incoerência quan<strong>do</strong> coloca<strong>do</strong>s juntos (afastamento e planificação), não o são.<br />

Quanto mais se comprime o ser, mais propício se torna o surgimento de visões<br />

pessoais sobre a realidade. Quanto mais se expande – mais se generaliza – a visão<br />

da verdade, mais a possibilidade de negação espiritual dessa verdade pode ser<br />

encontrada.<br />

O mun<strong>do</strong> tecnicista não traz em si uma possibilidade estética. Ver o mun<strong>do</strong><br />

somente pelo olhar de padrões generalizantes, por mais que tragam uma forma de<br />

teleologia, não trazem a beleza. Assim como não trazem, necessariamente, a<br />

identificação plena <strong>do</strong> ser com o mun<strong>do</strong>. O mun<strong>do</strong> se torna seco demais, ao mesmo<br />

tempo em que se fundamenta por uma metafísica racionalista. Deveria se ver o<br />

problema da ciência não pelos olhos da ciência, mas da arte. Para assim ser feito,<br />

deveria, antes, olhar a arte com os olhos da vida 34 .<br />

Da mesma forma, a visão nacionalista, por mais que possua uma<br />

possibilidade estética mais desenvolvida (danças, músicas, tradições, arquitetura),<br />

exclui a individualidade, jogan<strong>do</strong> o ser em um mar de pessoas sem rostos, sem<br />

33 “E a ciência mesma, a nossa ciência — sim, o que significa em geral, encarada como<br />

sintoma da vida, toda a ciência? Para que, pior, de onde — toda a ciência? Como? É a<br />

cientificidade talvez apenas um temor e uma escapatória ante o pessimismo? Uma sutil<br />

legítima defesa contra — a verdade? E, moralmente falan<strong>do</strong>, algo como uma covardia e<br />

falsidade? E, amoralmente, uma astúcia?” (NIETZSCHE, F. O nascimento da tragédia – ou<br />

Helenismo e Pessimismo. Trad. J.Guinsburg. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. 14.)<br />

34 Essa é a própria crítica que Nietzsche faz ao se próprio livro. Seu <strong>texto</strong> não deveria falar<br />

sobre essa nova alma – a alma de artista que deve atuar sobre o mun<strong>do</strong> –, mas deveria ter<br />

canta<strong>do</strong> isso, deveria ter si<strong>do</strong> mais artista. (NIETZSCHE, F. O nascimento da tragédia – ou<br />

Helenismo e Pessimismo. Trad. J. Guinsburg. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. 15-16.)

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