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texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

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inclusive, poucas vezes apresentadas, poden<strong>do</strong> ser resumidas, quan<strong>do</strong> ambos estão<br />

internos no hospício, entre ir de uma cela a outra e a poucos passeios pelos corre<strong>do</strong>res.<br />

Entretanto, a discussão de temas filosóficos, morais, religiosos e estéticos é constante.<br />

Mais <strong>do</strong> que discutir, eles produzem <strong>texto</strong>s escritos, que trocam entre si. Esse constante<br />

apresentar de <strong>texto</strong>s e idéias faz desse romance um romance de intelectualização. No<br />

final <strong>do</strong> século XIX, esse tipo de romance ganhou espaço, especialmente dentro de um<br />

<strong>do</strong>s ramos da corrente simbolista, que será trabalha<strong>do</strong> no segun<strong>do</strong> capítulo dessa<br />

dissertação.<br />

O primeiro caderno escrito por Fileto, Psicologia das visões (ANEXO 02), é um<br />

trata<strong>do</strong> sobre a condição orgânica de um ser enquanto potencializa<strong>do</strong>ra da capacidade de<br />

visualizar detalhes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> imperceptíveis aos demais organismos. É um caderno<br />

dividi<strong>do</strong> em cinco capítulos, cada um deles tratan<strong>do</strong>, por um méto<strong>do</strong> científico, de um<br />

aspecto da relação entre a constituição orgânica e as possibilidades de<br />

“consubstancializar” as visões. De acor<strong>do</strong> com ele, a elevação ou diminuição drástica<br />

das atividades corporais poderia ampliar a capacidade de percepção <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />

Há, no romance, a transcrição de trechos inteiros desse caderno, sob a ressalva<br />

de que o narra<strong>do</strong>r o achou fastidioso e que acabou por cortar diversas partes <strong>do</strong> <strong>texto</strong><br />

que julgou desnecessárias. As transcrições <strong>do</strong>s trechos mostram um caráter de Fileto<br />

mais racionalista e liga<strong>do</strong> a uma defesa cientificista <strong>do</strong> espírito e da sua manifestação no<br />

mun<strong>do</strong>, ao explicar que uma melhor anatomia corporal possibilita uma maior<br />

possibilidade de “consubstanciar” no cérebro as formas orgânicas que são colocadas em<br />

ação pelo eu para construir o mun<strong>do</strong>. Essa posição irá anteceder um <strong>do</strong>s aspectos<br />

estéticos que será trabalha<strong>do</strong> no segun<strong>do</strong> caderno de Fileto: a necessidade de o subjetivo<br />

se sobrepor ao objetivo. Desta forma, se abre caminho para que se possa encontrar no<br />

mun<strong>do</strong>, através das idéias de Fileto, diversas realidades que não podem ser<br />

comprovadas, mas que existem, efetivamente, para aqueles organismos que estiverem<br />

prepara<strong>do</strong>s para contemplá-las.<br />

⎯ “É exactamente o que eu sustento contra os que attribuem as visões a uma illusão <strong>do</strong>s<br />

senti<strong>do</strong>s. Estou com os proprios sensualistas, como vê. (...) Reproduzir um facto decorri<strong>do</strong><br />

é o que é possivel: crear, phantasiar o que não vem de fóra – eis o que eu nego... O<br />

esforço, a contemsão mental nunca fez isso. E si o admittirmos, apesar de tu<strong>do</strong>, teremos<br />

engendra<strong>do</strong> os problemas mais estranhos da psychologia.”<br />

⎯ Mas a aberração de certos sonhos? – objectei.<br />

⎯ “Sim: aberração sempre devida á consciencia insufficiente de quem sonha...”<br />

⎯ Então não acredita em revalações pelo sonho...<br />

⎯ “Como não? Só não acredito que nos revelemos a nós proprios... O sonho, o que<br />

eu presinto, o que eu vejo... nunca é obra exclusiva – eis ahi – não é abstração <strong>do</strong> meu

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