01.06.2013 Views

texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

omance). Esse dizer “sim” é algo que não pode ser aceito pela moralidade de<br />

rebanho. O escravo, aquele que detêm a moral <strong>do</strong> rebanho, acha a sua força na<br />

negativa <strong>do</strong> outro, e não na sua própria valorização. O rebanho, muitas vezes<br />

iguala<strong>do</strong> à burguesia, busca dar valores negativos àquilo que é mais forte <strong>do</strong> que<br />

ele mesmo, busca se agrupar para conseguir mais força física e, desta forma,<br />

aniquilar o que lhe é diferente. Isso que o torna diferente, essa postura diferente<br />

perante a vida, esse dizer “sim” a si mesmo, é visto pelo escravo como algo<br />

insuportável, pois revela a sua própria mediocridade (vale lembrar que Fileto é<br />

interna<strong>do</strong> no hospício por não ceder à moralidade burguesa vigente na sociedade<br />

com a qual é obriga<strong>do</strong> a conviver). Incapacita<strong>do</strong> de chegar ao ponto de superação<br />

de sua condição, o escravo age como um rancoroso. Guarda a sua mágoa em si<br />

mesmo e busca juntar forças (os escravos agem sempre de forma coletiva) contra<br />

aquilo que ele chama de mau. 18 O ser mau é o resulta<strong>do</strong> da inveja, da vingança, <strong>do</strong><br />

fraco que não consegue conviver com aqueles que lhe aparentam melhore, e, por<br />

isso, devem ser suprimi<strong>do</strong>s (NIETZSCHE, 1997, 116). E, ao acreditar que os<br />

outros são maus, o escravo fundamenta a sua vitória a uma força divina, ou, pelo<br />

menos, exterior a ele mesmo, que estivesse agin<strong>do</strong> em seu favor. A ele estaria<br />

destina<strong>do</strong> o bom.<br />

Ao contrário <strong>do</strong> escravo, o nobre não está preocupa<strong>do</strong> com o que o escravo<br />

sente. Nem sequer o classifica como mau. Mas como inferior. Alguém que não tem<br />

capacidade de se superar, que necessita <strong>do</strong>s remédios coletivos contra a vida. Que<br />

precisa das moralidades falsas que pregam a salvação, a redenção, a inversão <strong>do</strong>s<br />

papéis: os que aqui sofrem, na outra vida reinarão. Isso nem chega a ser mau para<br />

o nobre. É simplesmente ruim. O nobre é aquele que é capaz de dizer sim para si<br />

mesmo. E, ao definir a realidade a partir de sua própria ótica, ele passa a ser o<br />

parâmetro para o bom. Tu<strong>do</strong> o que for diferente dele será, necessariamente, ruim,<br />

pois não estará de acor<strong>do</strong> com a sua própria fundamentação de vida. “A forma de<br />

manifestar a vida e a sabe<strong>do</strong>ria é através da arte” (PERRUSI In LINS, 2001, 173).<br />

O forte, o nobre, aquele que diz sim a si mesmo é aquele capacita<strong>do</strong> a produzir a<br />

sua própria forma de ver o mun<strong>do</strong>, de compreender a realidade.<br />

18 As marcações em itálico (mau, bom, ruim) são feitas de propósito no <strong>texto</strong> dessa dissertação<br />

e servem para chamar a atenção para as categorias da moral trabalhadas por Nietzsche no livro<br />

Genealogia da moral.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!