texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná
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Mesmo quan<strong>do</strong> as pedras clamaram, tu foste mais duro que as pedras. Eu bem sei tu<strong>do</strong><br />
isto... mas... vem cá, destino: infringe agora, pela primeira vez, as tuas leis: poupa-nos<br />
aquella scena! Tem comnosco esta misericordia: não consintas que fique nos annaes<br />
humanos o lance imminente daquelle horrivel drama! Vê que ha por ali um capricho<br />
insolito <strong>do</strong> amor ante a desgraça: tentam reconhecer-se aquellas duas sombras,<br />
lembran<strong>do</strong>-se que jà foram vivas. Mas ah! não! não permittas que fique na memoria <strong>do</strong><br />
mun<strong>do</strong> aquelle quadro... Ha um horror que nos immobilisa, que nos confunde o senso<br />
humano, que nos entenebrece a alma... ha um horror que nos angustia nesse pensamento<br />
de que aquella mulher se vai encontrar com o espectro daquelle homem. Tira-nos da<br />
mente conturbada, cancella da historia essa idéa tremenda que vai pungin<strong>do</strong> a<br />
consciencia <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, como si nós to<strong>do</strong>s, to<strong>do</strong>s os homens, todas as creaturas fossemos<br />
uma só alma para a sensação deste incomparavel martyrio. Evita, oh destino, aquella <strong>do</strong>r<br />
– unica no tempo! Afasta <strong>do</strong>s olhos daquella mulher a visão pavorosa. Ali não está mais<br />
de Dreyfus sinão a ruina inconcebivel. É a larva de uma vida o que ali está! é o destroço<br />
de uma existencia – clamante como todas as voragens moraes. Vê si te abala, oh<br />
destino, toda aquella miseria! E si preciso invocar essa Potestade que anda acima das<br />
leis, oh Senhor de misericordia – ouvi o nosso grito! Este grito que sái da terra transida,<br />
pranto e clamor de dies iræ, oração de famintos, desta fome de justiçaSenhor de<br />
misericordia, que faz damnar as almas! Quan<strong>do</strong> a materia prende uma vida, Senhor,<br />
como a Laocoonte os monstros <strong>do</strong> abysmo, ou como a sombra de Judas a consciencia <strong>do</strong><br />
maldito; e quan<strong>do</strong> essa vida tem sobre si to<strong>do</strong>s os castigos <strong>do</strong> tempo consubstancia<strong>do</strong>s<br />
numa só <strong>do</strong>r secular, suprema, horrenda – parece que a Creação se nos aprensenta sob o<br />
aspecto de um crime colossal! Oh justiça de Deus! para que ha de esta humanidade ficar<br />
mais um instante no planeta, deixan<strong>do</strong> nos annaes eternos a macula indelevel daquella<br />
tristeza! Não, Jesus! Renunciai antes a vossa causa de Amor... e que este mun<strong>do</strong> volte<br />
ao nada, que se dissolva, que se vaporise e que fique para sempre ahi perdi<strong>do</strong> no espaço<br />
como um numbus immenso e negro, onde não chegue a luz <strong>do</strong> céu. Ou entào arrazai ao<br />
menos a França, oh Senhor, a França que teve labios para apostrophar os filhos de um<br />
innocente! Varrei da face da terra aquella Europa covarde que viu impassivel um povo<br />
feroz contra a justiça devida a um homem! Oh Senhor!<br />
SER DIGNO. – Tu<strong>do</strong> na vida consiste em ser digno da vida: quer dizer – em ser<br />
heróe. E ser heróe legitimo é exercer heroismos de accor<strong>do</strong> com o seu tempo. Em todas<br />
as situações o heroismo legitimo é sagra<strong>do</strong>, é a amarca da creatura que se vai redimin<strong>do</strong>.