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texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

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Segunda vez, nesse momento,<br />

Sorriu-me o triste pensamento;<br />

Vou sentar-me defronte ao corvo magro e ru<strong>do</strong>;<br />

E mergulhan<strong>do</strong> no velu<strong>do</strong><br />

Da poltrona que eu mesmo ali trouxera<br />

Achar procuro a lúgubre quimera,<br />

A alma, o senti<strong>do</strong>, o pávi<strong>do</strong> segre<strong>do</strong><br />

Daquelas sílabas fatais,<br />

Entender o que quis dizer a ave <strong>do</strong> me<strong>do</strong><br />

Grasnan<strong>do</strong> a frase: “Nunca mais”.<br />

Assim posto, devanean<strong>do</strong>,<br />

Meditan<strong>do</strong>, conjeturan<strong>do</strong>,<br />

Não lhe falava mais; mas, se lhe não falava,<br />

Sentia o olhar que me abrasava.<br />

Conjeturan<strong>do</strong> fui, tranqüilo a gosto,<br />

Com a cabeça no macio encosto<br />

Onde os raios da lâmpada caíam,<br />

Onde as tranças angelicais<br />

De outra cabeça outrora ali desparziam,<br />

E agora não se esparzem mais.<br />

Supus então que o ar, mais denso,<br />

To<strong>do</strong> se enchia de um incenso,<br />

Obra de serafins que, pelo chão roçan<strong>do</strong><br />

Do quarto, estavam menean<strong>do</strong><br />

Um ligeiro turíbulo invisível;<br />

E eu exclamei então: “Um Deus sensível<br />

Manda repouso à <strong>do</strong>r que te devora<br />

Destas saudades imortais.<br />

Eia, esquece, eia, olvida essa extinta Lenora”.<br />

E o corvo disse: “Nunca mais”.<br />

“Profeta, ou o que quer que sejas!<br />

Ave ou demônio que negrejas!<br />

Profeta sempre escuta: Ou venhas tu <strong>do</strong> inferno<br />

Onde reside o mal eterno,<br />

Ou simplesmente náufrago escapa<strong>do</strong><br />

Venhas <strong>do</strong> temporal que te há lança<strong>do</strong><br />

Nesta casa onde o Horror, o Horror profun<strong>do</strong><br />

Tem os seus lares triunfais,<br />

Dize-me: existe acaso um bálsamo no mun<strong>do</strong>?”<br />

E o corvo disse: “Nunca mais”.

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