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texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

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A mudança de postura de Fileto e como as suas idéias são aparecem nesse<br />

caderno apresentam um abismo imenso entre esses <strong>do</strong>is momentos dessa personagem.<br />

Aqui encontra-se uma personagem submissa, teleológica e, desta forma, moral. Jesus<br />

passa a ser o sustentáculo de toda a possibilidade de justificativa da vida. Ou seja, a<br />

vida, que era justificada por ela mesma para Fileto no início da narrativa, passa a se<br />

justificar por um ente externo a ela, algo que é maior <strong>do</strong> que ela mesma, que a<br />

transcende. Fileto passa a ter necessidade <strong>do</strong> outro (na figura de Jesus) para a<br />

fundamentação da vida e <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e, o único consolo possível para a existência é<br />

Jesus. Passa, então, à uma postura muito mais social, coletiva, na qual prevê não a<br />

ampliação solitária <strong>do</strong> espírito para um conhecimento maior <strong>do</strong> universo, mas a<br />

necessidade de atuar socialmente. Sem essa atuação, não é possível a moral, e sem a<br />

moral, não há razão para Jesus. E a necessidade de Jesus que Fileto aparenta agora faz<br />

com que somente o Nada seja possível longe da palavra <strong>do</strong> messias.<br />

Nega, inclusive, a possibilidade de compreensão da palavra de Jesus fora <strong>do</strong><br />

Catolicismo. Não descarta a beleza das outras religiões, mas, ao classificar o<br />

Catolicismo como a única religião que entendeu realmente a palavra de Jesus, está<br />

posicionan<strong>do</strong>-se claramente dentro de uma moral já existente e externa a ele. A<br />

contemplação da vida que era a sua marca mais saliente e que criava incômo<strong>do</strong>s morais<br />

no narra<strong>do</strong>r no início da narrativa é substituída por uma necessidade de eternidade, que<br />

pode ser vista tanto na questão de voltar seu espírito a Deus, como a de manter-se no<br />

mun<strong>do</strong>, no espírito de outros homens.<br />

Nesses <strong>do</strong>is últimos cadernos percebe-se que Fileto deixou de ter uma vida<br />

artística (e, conseqüentemente ser, ele mesmo, a sua criação) para produzir obras de<br />

arte. O narra<strong>do</strong>r o convence da necessidade de publicar e divulgar as idéias que tem.<br />

Já, desde o intervalo entre os <strong>do</strong>is processos de leitura <strong>do</strong>s cadernos de Fileto, o<br />

narra<strong>do</strong>r se sente confortável para atuar nas idéias de Fileto. A forma mais eficaz que<br />

utilizou foi a de apresentar os projetos literários e sociais que possuía. Dois recebem<br />

destaque no romance: o projeto <strong>do</strong> poema Jesus e o da Cidade Futura.<br />

O primeiro, apresenta<strong>do</strong> um pouco antes de Fileto ceder os cadernos ao narra<strong>do</strong>r,<br />

seria um grande poema épico que revelaria às almas <strong>do</strong> novo século novas<br />

possibilidades de interpretação da palavra de Jesus. Fileto que, no início da narrativa é<br />

visto pelo narra<strong>do</strong>r como um ser livre de formas fixas e, conseqüentemente, não deveria<br />

ser muito afeito a versos, já possui um pouco de seu mun<strong>do</strong> muda<strong>do</strong> e aqui empolga-se<br />

com a possibilidade de fazer um poema gigantesco, to<strong>do</strong> ele regi<strong>do</strong> por formalismo.

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