texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná
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seria cria<strong>do</strong> pelo subjetivo – por uma incapacidade de encontrar-se plenamente no<br />
mun<strong>do</strong> de outro (devi<strong>do</strong> ao distanciamento que um ser está em relação aos demais,<br />
crian<strong>do</strong> uma impossibilidade de comunicação entre eles), denuncia a estratégia de como<br />
o narra<strong>do</strong>r atuará para aproximar-se de Fileto. Ele buscará se tornar aquela alma<br />
compreensiva que, aos olhos de Fileto, saberá reconhecer a sua necessidade de uma vida<br />
artística.<br />
A vida artística de Fileto é a forma como ele, individualmente, constrói as<br />
justificativas de sua existência. A idéia seria de se tornar um ser auto-suficiente, que<br />
possa fundamentar o mun<strong>do</strong> a partir de suas próprias concepções e que, como uma obra<br />
de arte, possa encerrar, em si, to<strong>do</strong> o seu próprio universo.<br />
Por essa noção <strong>do</strong> indivíduo ser a sua própria obra de arte é que o narra<strong>do</strong>r quer<br />
acesso aos cadernos de Fileto. Ter acesso aos <strong>texto</strong>s escritos por Fileto era uma forma<br />
de o narra<strong>do</strong>r vislumbrar aquilo que embasa o pensamento <strong>do</strong> interno. A estratégia <strong>do</strong><br />
narra<strong>do</strong>r para penetrar e tentar compreender o mun<strong>do</strong> de Fileto é, ao tomar contato com<br />
os seus cadernos, buscar aquilo que é incoerente ou que não se sustenta de forma mais<br />
consistente nas suas idéias, mesmo que Fileto diga que, quem o julgar pelo que escreve,<br />
o estará julgan<strong>do</strong> mal.<br />
Encontran<strong>do</strong> essas lacunas na estruturação <strong>do</strong> pensamento, o narra<strong>do</strong>r<br />
argumentará exatamente nesses pontos fracos. Uma vez ruin<strong>do</strong> esses alicerces menos<br />
sóli<strong>do</strong>s <strong>do</strong> pensamento de Fileto, o restante fica acessível. Entretanto, só é possível essa<br />
reestruturação <strong>do</strong> pensamento de Fileto pelo <strong>do</strong> narra<strong>do</strong>r pelo fato de eles se<br />
reconhecerem enquanto iguais. São duas almas elevadas que encontram-se no mun<strong>do</strong> e,<br />
ao se reconhecerem, percebem que é possível, para elas, a superação da<br />
incomunicabilidade que separa os seres no mun<strong>do</strong>. Por se reconhecerem, eles<br />
conseguem efetivar o ideal de poderem argumentar sobre as idéias <strong>do</strong> outro. O narra<strong>do</strong>r<br />
parece estar mais bem arma<strong>do</strong> para esse tipo de confronto de idéias, ainda mais que ele<br />
tem acesso aos cadernos nos quais Fileto coloca as bases de seu mun<strong>do</strong>.<br />
O narra<strong>do</strong>r encontra, nos quatro cadernos de Fileto a que teve acesso, diferentes<br />
temas. Cada um <strong>do</strong>s cadernos versará sobre um tema central. Essas constância que<br />
ocorre durante to<strong>do</strong> o romance de transcrições e citações de <strong>texto</strong>s aponta para o ideal<br />
de arte que é tanto defendi<strong>do</strong> enquanto proposta estética pelas personagens quanto<br />
usa<strong>do</strong> na elaboração <strong>do</strong> próprio romance. A escrita ganha uma posição diferencial sobre<br />
a ação. Não é um romance de aventuras ou de viagens, mas um romance intelectual. As<br />
discussões que as personagens travam são muito mais importantes <strong>do</strong> que as suas ações,