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texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

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um trecho escuro, ao sul. Ainda ali havia guerra... oh! Fiz um gesto brusco. Senti mesmo<br />

uma indignação, uma revolta espantosa. ⎯ Que diabo! guerra e mais guerra por toda esta<br />

porcaria... De onde vem tanta guerra? ⎯ “Dali ⎯ disse-me o anjo, apontan<strong>do</strong> para a<br />

Europa. (POMBO, 1905, 174-175)<br />

Mesmo que to<strong>do</strong>s reconheçam quanta força é necessária ter para se romper com<br />

expectativas e modelos, como é trabalha<strong>do</strong> no <strong>texto</strong> A estátua de Hulme, o me<strong>do</strong> e a<br />

incompreensão ainda mais se fortalessem.<br />

A estatua é uma allegoria <strong>do</strong> genio: uma bella figura estranha, sobre eleva<strong>do</strong> pedestal, e<br />

lançada para o céu, numa angustia ufana de deus <strong>do</strong>loroso, e a indicar, no horizonte, uma<br />

estrella que se eleva resplandecente... Parece que a estatua tem o seu olhar, illumina<strong>do</strong> e<br />

terrivel, movel e flammante, a agitar-se, perdi<strong>do</strong> entre a sombra da terra e o esplen<strong>do</strong>r das<br />

alturas. (...) Quan<strong>do</strong> o artista, com a alegria pungente de um crea<strong>do</strong>r de mun<strong>do</strong>s, afastou a<br />

cortina, to<strong>do</strong> um povo convulso ergueu as mãos para elle e para a sua obra. O applauso da<br />

multidão era como um vasto rugi<strong>do</strong>, colossal e formidan<strong>do</strong>, que causava pavor. Nunca se<br />

tinha visto no mun<strong>do</strong> um triumpho assim. ⎯ No emtanto, Hulme, a um la<strong>do</strong>, continúa<br />

impassivel. Contempla a estatua em silencio, como si tivesse a alma genuflexa, em<br />

a<strong>do</strong>ração. Ao cabo de alguns instante, embeveci<strong>do</strong> no seu extase, vai alçan<strong>do</strong> os braços<br />

para ella, num arroubo e numa irradiação de quem vê coisas estupendas. (...) E maior foi o<br />

espanto de to<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> Hulme, no seu deslumbramento, tomou machinalmente o<br />

carmatello, ascendeu ao pedestal e, com a rapidez <strong>do</strong> relampago, fez tombar a estrella,<br />

deixan<strong>do</strong> a estatua na sua ancia a apontar para o espaço vasio... Ao ver mutilada a grande<br />

obra, a multidão teve um espasmo, um como deliquio de monstro feri<strong>do</strong>. (POMBO, 1905,<br />

164-165)<br />

O Grande Velho trabalha com a possibilidade de romper o tempo e colocar-se<br />

fora da necessidade histórica, mas que, para tanto, se faz necessário, também, cair no<br />

esquecimento. Se o ser viver o seu próprio tempo, desvincula<strong>do</strong> <strong>do</strong> que é vivi<strong>do</strong> por<br />

to<strong>do</strong>s os demais, não há para ele espaço e a sua existência deixará de ser possível. Viver<br />

uma vida artística traz o fa<strong>do</strong> de jamais poder ser lembra<strong>do</strong>. Cria<strong>do</strong>res não podem ter a<br />

esperança de serem lembra<strong>do</strong>s, mas, no máximo, usa<strong>do</strong>s como modelos distorci<strong>do</strong>s<br />

daquilo que se quer defender. A ligação deste <strong>texto</strong> com as idéias que são defendidas<br />

sobre Cristo em to<strong>do</strong> o romance se torna significativa. Durante toda narrativa, diz-se<br />

que nunca se compreendeu realmente o espírito de Cristo. Que tu<strong>do</strong> o que se tem no<br />

mun<strong>do</strong> sobre a sua <strong>do</strong>utrina, é mera especulação de pessoas que fazem mau uso de suas<br />

palavras para justificar a manutenção de um poder que foi cria<strong>do</strong> a partir de ilusões<br />

sobre o que ele teria prega<strong>do</strong>. Entretanto, é possível fazer com que esse Grande Velho<br />

perdi<strong>do</strong> no tempo acorde, mas aqueles que são capazes de o fazer teriam seus espíritos<br />

tão eleva<strong>do</strong>s em relação à multidão, que jamais seriam lembra<strong>do</strong>s também. Fileto,<br />

durante o livro, diz que ninguém foi capaz de compreender a <strong>do</strong>utrina de Jesus como ele

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