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texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

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enquanto uma espécie de escolhi<strong>do</strong>. Mas não é mais um escolhi<strong>do</strong> por uma<br />

transcendência, por uma divindade. Agora é a consciência <strong>do</strong> poeta que, ao perceber sua<br />

importância no mun<strong>do</strong> e a sua função construtiva em relação ao universo, percebe a sua<br />

força e a sua diferenciação em relação aos outros.<br />

O poeta funde-se com o mun<strong>do</strong>, que não é mais nem bom, nem mal. É o único<br />

mun<strong>do</strong> que existe, ele permeia tu<strong>do</strong>. E, como o poeta é o próprio mun<strong>do</strong> (não mais uma<br />

analogia <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>) está acima <strong>do</strong> bem e <strong>do</strong> mal. Não há mais categoria possível para<br />

classificá-lo. Se antes, durante o Romantismo, o poeta era aquele que possuía a<br />

capacidade de perceber as relações entre o mun<strong>do</strong> físico e o metafísico, agora – pela<br />

inexistência desse segun<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, deixan<strong>do</strong> o ser humano se tornar um órfão joga<strong>do</strong> à<br />

sua própria sorte – o poeta moderno só irá trabalhar com o mun<strong>do</strong> físico. Mas,<br />

lembran<strong>do</strong> sempre, que esse mun<strong>do</strong> físico não é o mun<strong>do</strong> objetivo, mas o mun<strong>do</strong><br />

construí<strong>do</strong> pelo sentimento <strong>do</strong> poeta em face da materialidade, tanto <strong>do</strong>s entes que<br />

habitam o universo, como de suas próprias criações, que, no fun<strong>do</strong>, se reduzem às<br />

mesmas coisas.<br />

A arena da literatura transferiu-se <strong>do</strong> universo concebi<strong>do</strong> como máquina, da sociedade<br />

concebida como organização, para a alma individual. (...) To<strong>do</strong> aquele mun<strong>do</strong> vaporoso,<br />

confuso e magnífico <strong>do</strong> Romantismo havia si<strong>do</strong> resolutamente ordena<strong>do</strong> e reduzi<strong>do</strong>; mas,<br />

então, o ponto de vista objetivo <strong>do</strong> naturalismo e a técnica mecânica que lhe era própria<br />

principiaram a tolher a imaginação <strong>do</strong> poeta, e se demonstrar inadequa<strong>do</strong>s para expressar o<br />

que ele sentia. (...) A literatura desloca-se outra vez da baliza clássico-científica para a<br />

romântico-poética. E esta segunda reação, no final <strong>do</strong> século, esta contraparte da reação<br />

romântica em fins <strong>do</strong> século anterior, ficou conhecida em França por simbolismo.<br />

(WILSON, 2004, 30-35)<br />

A definição de mun<strong>do</strong> objetivo poderia ser bem aplicada aos romances de tese<br />

desenvolvi<strong>do</strong>s pelo Naturalismo. A descrição em minúcias da realidade, excluin<strong>do</strong> dela<br />

a metafísica, deixan<strong>do</strong> somente os valores objetivos não é o que será busca<strong>do</strong> pelo poeta<br />

na literatura de Baudelaire. O poeta, para ele, chama para si a responsabilidade de única<br />

fundamentação <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, o que faz com que os padrões sociais sejam deixa<strong>do</strong>s em<br />

segun<strong>do</strong> plano.<br />

Da mesma forma, no romance de Huysmans (Às avesas), des Esseintes procura<br />

construir seu próprio mun<strong>do</strong> pela fuga da multidão que ganhava cada vez mais corpo em<br />

Paris. Essa grande massa lhe causa horror, e, esse horror acaba por formar a sua própria<br />

necessidade de um outro mun<strong>do</strong>. Essa necessidade de isolamento faz com que des<br />

Esseintes se aproxime de autores (livros) mais afeitos aos seus sentimentos. Com isso,

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