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texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

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homens não mais necessitarão <strong>do</strong>s deuses, poden<strong>do</strong> negá-los, e, então, ele,<br />

Prometeu, será liberta<strong>do</strong> e sauda<strong>do</strong> como um <strong>do</strong>s grandes nomes que aju<strong>do</strong>u a<br />

superação da dependência humana em relação aos outros mun<strong>do</strong>s. Prometeu, pelo<br />

que se pode sentir em sua tragédia, sabe que nunca chegará a ocupar o lugar de<br />

Zeus. Talvez por que saiba que, quan<strong>do</strong> for liberta<strong>do</strong>, esse lugar não mais existiria,<br />

uma vez que será realizada a maldição, lançada por Cronos, pela qual Zeus está<br />

destina<strong>do</strong>. As divindades gregas traziam, em si, a possibilidade de diálogo e da<br />

própria superação da condição de dependência da humanidade.<br />

Já a divindade cristã, Deus, unifican<strong>do</strong> o papel de cria<strong>do</strong>r, juiz e joga<strong>do</strong>r,<br />

não traz a possibilidade de diálogo. É impossível o questionamento de sua vontade.<br />

O cristianismo traz consigo a fundamentação da realidade em uma verdade dada,<br />

pré-existente. Deus criou o mun<strong>do</strong> e estabeleceu as regras. Desta forma, não há<br />

como questioná-las. Mas há algo ainda maior nesse esquema: nem sempre as regras<br />

são claras, pois as suas bases não estão colocadas sobre o nosso mun<strong>do</strong>, mas em<br />

um mun<strong>do</strong> exterior, em relação <strong>do</strong> qual, o nosso é um mero reflexo. Tal qual o<br />

mun<strong>do</strong> das idéias de Platão 14 , a transcendência cristã não pode ser achada na terra,<br />

mas somente naquilo que negue a terra, que abra mão da matéria. Da mesma forma<br />

que em Platão, o cristianismo é forma<strong>do</strong> por (e para) porta-vozes da verdade (para<br />

aquele eram os filósofos, para este são os sacer<strong>do</strong>tes).<br />

Em No Hospício ocorre um movimento significativo sobre essa questão. A<br />

escolha <strong>do</strong> cristianismo, mais exatamente <strong>do</strong> catolicismo, como fundamentação da<br />

vida por parte <strong>do</strong> narra<strong>do</strong>r e a influência que exerce sobre Fileto, primeiramente<br />

ganhan<strong>do</strong> a confiança <strong>do</strong> interno, e depois fazen<strong>do</strong>-se necessário e, até mesmo,<br />

indispensável, influenciará sobre como Fileto busca compreender o<br />

posicionamento de outros sobre temas que ele julgar ser o melhor interprete. Isso<br />

ocorre no caso de aceitar as interpretações da palavra de Jesus dadas pela Igreja.<br />

Inicialmente, Fileto considera que somente ele entendeu perfeitamente a palavra de<br />

Jesus, mas, conforme a influência <strong>do</strong> narra<strong>do</strong>r vai crescen<strong>do</strong>, ele chegará, no ponto<br />

(ÉSQUILO. Prometeu acorrenta<strong>do</strong>. Trad. Mário da Gama Kury. Rio de Janeiro: Jorge Zahar<br />

Editor, 1998. p 55-56.)<br />

14 “Platão (...) despi<strong>do</strong> da astúcia plebéia, quis, com toda a energia a maior energia que um<br />

filósofo já empregara! , provar a si mesmo que razão e instinto se dirigem naturalmente a<br />

uma meta única, ao bem, a ‘Deus’; e desde Platão to<strong>do</strong>s os teólogos e filósofos seguem a<br />

mesma trilha isto é, em questões morais o instinto, ou ‘a fé’, como dizem os cristãos, ou ‘o<br />

rebanho’, como digo eu, tirunfou até agora.” (NIETZSCHE, F. Além <strong>do</strong> bem e <strong>do</strong> mal –<br />

prelúdio a uma filosofia <strong>do</strong> futuro. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das<br />

Letras, 2000. 91.)

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