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texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

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Palavra, se correspondem: portanto, se o homem estivesse na ciência das<br />

correspondências, ele compreenderia a Palavra no seu senti<strong>do</strong> espiritual (...); de fato, há na<br />

Palavra um senti<strong>do</strong> literal e um senti<strong>do</strong> espiritual: o senti<strong>do</strong> literal consiste em coisas<br />

como as que estão no Céu; e como a conjunção <strong>do</strong> Céu com o mun<strong>do</strong> existe através das<br />

correspondências, é por isso que lhe foi dada uma tal Palavra, na qual tu<strong>do</strong> até um iota se<br />

corresponde. (SWEDENBORG, In: GOMES, 1994, 38-39)<br />

O mun<strong>do</strong> material nada mais é <strong>do</strong> que uma correspondência de um mun<strong>do</strong> que o<br />

transcende e está coloca<strong>do</strong> em um plano mais eleva<strong>do</strong>. Esse mun<strong>do</strong> espiritual é a causa<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> natural. E, uma vez que é cria<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> espiritual, o mun<strong>do</strong><br />

natural guarda com ele relações de intrínseca dependência. Mesmo que o mun<strong>do</strong> natural<br />

possa ser compreendi<strong>do</strong> como algo em si, ele jamais poderia ser compreendi<strong>do</strong> em sua<br />

totalidade se não for pela correspondência com <strong>do</strong> transcendente. E, dessa moda<br />

resultou um profun<strong>do</strong> compromisso romântico com a existência divina. Mais <strong>do</strong> que um<br />

compromisso: uma necessidade. Toda a teoria romântica baseia-se na possibilidade de<br />

Redenção da matéria pelo espírito. E essa Redenção elevaria o romântico a uma<br />

interação com a Divindade.<br />

Em suma, o que ainda persiste aqui é o dualismo que se fazia presente desde a<br />

antiguidade e grandemente trabalha<strong>do</strong> pelos ideais cristãos. O mun<strong>do</strong> material, enquanto<br />

um mero reflexo de um mun<strong>do</strong> mais eleva<strong>do</strong>. E, através da decodificação deste mun<strong>do</strong> é<br />

possível encontrar as “chaves” que nos levariam ao outro plano. De forma geral, essa<br />

teoria é absorvida pelo cristianismo que dá a ela uma fundamentação moral sobre a<br />

negação da matéria. Porém, a possibilidade de decodificação sai das mãos <strong>do</strong>s filósofos<br />

e passa para aqueles que foram investi<strong>do</strong>s de poderes transcendentes (em especial a<br />

instituição da Igreja católica).<br />

Em um universo com a mentalidade burguesa, de valorização <strong>do</strong> indivíduo e da<br />

racionalidade, como o existente no século XIX, o que se viu foi uma revalorização<br />

destes princípios. Porém, não foi uma revalorização total. A negação das instituições<br />

que se diziam porta<strong>do</strong>ras da vontade divina (em especial, a Igreja Católica) e a<br />

valorização da individualidade fizeram com que se criasse a figura <strong>do</strong> gênio. Esse ser<br />

seria <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de um espírito eleva<strong>do</strong> e que poderia, por conta própria, perceber as<br />

relações entre o mun<strong>do</strong> em que ele se encontra e o mun<strong>do</strong> que deu origem a este.<br />

São precisamente estas as dificuldades da arte. São destes obstáculos próprios de tais ou<br />

tais assuntos, e sobre os quais não se poderia decidir uma vez por todas. Cabe ao gênio<br />

resolvê-los, não às poéticas evitá-los. (HUGO, Victor; 56)

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