texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná
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No romance No hospício, publica<strong>do</strong> originalmente em 1905 pelo paranaense<br />
Rocha Pombo, encontra-se um narra<strong>do</strong>r participante que está contan<strong>do</strong> uma história que<br />
diz ter vivi<strong>do</strong>. Partin<strong>do</strong> dessa prerrogativa, a narrativa se dá em um momento posterior<br />
aos fatos narra<strong>do</strong>s. O narra<strong>do</strong>r, quan<strong>do</strong> conta a história para os leitores, está afasta<strong>do</strong><br />
algum tempo para o futuro em relação ao momento que ela ocorreu. Alguns trechos,<br />
inclusive, não são de narrações da história que o narra<strong>do</strong>r teria vivi<strong>do</strong>, mas transcrevem<br />
o seu posicionamento no momento que estaria escreven<strong>do</strong>. Enquanto estruturação <strong>do</strong><br />
discurso narrativo, a escolha de tempos verbais no <strong>texto</strong> é bastante significativa, uma<br />
vez que o narra<strong>do</strong>r conta a história usan<strong>do</strong> o passa<strong>do</strong>, mas, em alguns momento, a<br />
utilização de tempos verbais no presente faz com que o narra<strong>do</strong>r se apresente, de forma<br />
crítica em relação aos acontecimentos. Esses tempos no presente são usa<strong>do</strong>s como uma<br />
forma de sustentar e questionar algumas escolhas dentro <strong>do</strong> romance.<br />
Semelhante appelli<strong>do</strong> não me era estranho de to<strong>do</strong>. É muito subtil a impressão que tenho,<br />
mas, em to<strong>do</strong> o caso, sempre me recor<strong>do</strong> de um não sei quem Seixas, conheci<strong>do</strong>, em certas<br />
rodas, como um maluco, muito excentrico a muito disparata<strong>do</strong>. Seria mesmo a pessoa de<br />
quem conservo uma ligeira reminiscencia? (POMBO, 1905, 13)<br />
Os tempos verbais ficam organiza<strong>do</strong>s, então, da seguinte forma: para a<br />
narrativa da ação a ser desenvolvida enquanto trama <strong>do</strong> central <strong>do</strong> enre<strong>do</strong>, utiliza-<br />
se o passa<strong>do</strong>; para posicionamentos <strong>do</strong> narra<strong>do</strong>r que não haviam surgi<strong>do</strong> quan<strong>do</strong><br />
ele teria vivencia<strong>do</strong> a ação, utiliza-se o presente; e juntamente com esses lances de<br />
pensamento no presente, o narra<strong>do</strong>r joga alguns trechos para o futuro, pressupon<strong>do</strong><br />
o que estaria por vir na figura <strong>do</strong> possível leitor <strong>do</strong> seu <strong>texto</strong>.<br />
Ele deixa claro a sua posição de um narra<strong>do</strong>r-autor, que sabe que terá,<br />
possivelmente, leitores e, os tempos no futuro – tempos da leitura – indicam a<br />
forma como o narra<strong>do</strong>r acredita que o futuro leitor de seu <strong>texto</strong> deverá se portar<br />
quan<strong>do</strong> tiver a oportunidade de leitura <strong>do</strong> romance.<br />
Naquelle mesmo dia comecei, e, dentro de uma semana, consegui copiar, <strong>do</strong> caderno, a maior<br />
parte <strong>do</strong>s trechos que me pareciam mais bellos. Como estão em avulso e sem ordem, aqui os<br />
intercalo nesta narrativa, suppon<strong>do</strong> que o leitor vai encontrar, nestes pedaços, o mesmo espirito<br />
de vida que eu nelles encontrei. (POMBO, 1905, 124)<br />
A forma como Rocha Pombo estrutura a postura que o narra<strong>do</strong>r assume é<br />
escolhida de forma que ele aparente saber que está contan<strong>do</strong> uma história e que<br />
terá pessoas len<strong>do</strong> esse <strong>texto</strong>. Em outras palavras, o narra<strong>do</strong>r é estrutura<strong>do</strong> como