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texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

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Comentan<strong>do</strong> sobre a genialidade de Nietzsche, no décimo sexto ponto desse<br />

caderno, Fileto retoma a sua idéia, já apresentada anteriormente, de que Nietzsche é, ao<br />

mesmo tempo, o gênio e o seu próprio algoz. De acor<strong>do</strong> com Fileto, a filosofia de<br />

Nietzsche é, por si só, o maior mal que poderia ocorre à humanidade, mas que, para que<br />

ela seja desconstruida, basta utilizar ela mesma. O que se defende nesse ponto <strong>do</strong><br />

caderno é até que ponto vale a genialidade sem razão.<br />

XVI. – Nietzsche é o homem de genio mais perigoso deste seculo. Si a sua obra pudesse<br />

vingar, seria o maior mal até hoje feito á humanidade: a sua philosophia é uma restauração<br />

<strong>do</strong> epicurismo antigo falsea<strong>do</strong> pelos modernos. Felizmente, para combater essa<br />

philosophia não ha necessidade de outro Socrates que não seja o proprio Nietzsche, nos<br />

seus bons dias. – São, na verdade, deploraveis as aberrações deste homem! A inanidade<br />

das theorias e systemas que creou nos entristece e desconsola, porque nos mostra até que<br />

ponto é possivel esta incivel anomalia <strong>do</strong> genio sem razão... – O super-homem de<br />

Nietzsche seria um monstro. (POMBO, 1905, 128)<br />

Fileto, em seu caderno, discorre sobre sobre o fechamento de um espírito para o<br />

restante <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, usan<strong>do</strong> Nietzsche como exemplo. Um espírito eleva<strong>do</strong> que se sabia<br />

como tal, mas que, para manter-se, acaba negan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> o que existe, inclusive a si<br />

mesmo. De acor<strong>do</strong> com Fileto, os únicos espíritos que não foram nega<strong>do</strong>s por<br />

Nietzsche, não o foram preserva<strong>do</strong>s por respeito, mas por necessidade, para um fim<br />

utilitário.<br />

XIX. – Nietzsche diz que leu Carlyle e chama Sartor Resartus de “interpretação heroicomoral<br />

das affecções dyspepticas”. Facilmente se comprehende a incapacidade de Nietzsche<br />

para estudar Carlyle. – mas este Nietzsche não encontrou um espirito que lhe merecesse ao<br />

menos respeito!... Afigura-se que o homem ouvin<strong>do</strong> ler este trecho: “O poeta lyrico ficou<br />

por muito tempo uni<strong>do</strong> ao musico...”, irritou-se, ergueu-se, arregaçou os punhos e<br />

investiu... Mas de repente, eis que lhe mostraram que o trecho é... delle mesmo!... – Só de<br />

Emerson não disse o homem grande mal, mas talvez porque precisava de empurral-o sobre<br />

Carlyle... (POMBO, 1905, 129)<br />

Mais adiante nesse caderno, Fileto, por um falso silogismo procura destruir a<br />

separação <strong>do</strong>s seres entre fracos e fortes e questiona a vitória inevitável <strong>do</strong>s fracos sobre<br />

os fortes como é anunciada por Nietzsche. Partin<strong>do</strong> de um trecho no qual Nietzsche<br />

critica Darwin, Fileto procura mostrar que a lei da seleção natural é uma verdade eterna.<br />

Parte ele de uma analogia, ten<strong>do</strong> como base de sua argumentação que tu<strong>do</strong> o que é<br />

anuncia<strong>do</strong> deveria poder ser aplica<strong>do</strong> a to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong> Nietzsche diz que o<br />

fraco possui mais espírito <strong>do</strong> que o forte, o diz pelo fato de usar como base de toda a sua<br />

construção filosófica a idéia de que tu<strong>do</strong> é construção humana. Sen<strong>do</strong> assim, o espírito<br />

também seria algo construí<strong>do</strong> pelos homens e, dessa forma, mais espírito terá quem

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