texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná
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Como ecos longos que à distância se matizam<br />
Numa vertiginosa e lúgubre unidade,<br />
Tão vasta quanto a noite e quanto a claridade,<br />
Os sons, as cores e os perfumes se harmonizam.<br />
O mun<strong>do</strong> está agonizan<strong>do</strong> na poesia de Baudelaire, como aparece em<br />
L’Héautontimorouménos (ANEXO 09), tal qual está o poeta neste mun<strong>do</strong>. A<br />
incapacidade de compreender e de dar um senti<strong>do</strong> maior para o mun<strong>do</strong> pela efetiva<br />
ausência de qualquer senti<strong>do</strong> absoluto faz com que praticamente a queda no nada seja<br />
insuperável, o que fará com que, ainda pensan<strong>do</strong> no que perdeu, o poeta se culpe pela<br />
sua não adaptação ao mun<strong>do</strong>:<br />
Não sou acaso um falso acorde<br />
Nessa divina sinfonia,<br />
Graças à voraz Ironia<br />
Que me sacode e que me morde?<br />
O agonizante e a própria causa desse sentimento não possuem uma distinção<br />
real, nem sequer possível.<br />
Eu sou o espelho amaldiçoa<strong>do</strong><br />
Onde a megera se olha aflita.<br />
Eu sou a faca e o talho atroz!<br />
Eu sou o rosto e a bofetada!<br />
Eu sou a roda e a mão crispada,<br />
Eu sou a vítima e o algoz!<br />
A capacidade que o poeta possui de compreender o mun<strong>do</strong>, de torná-lo igual a<br />
si, faz com que o próprio poeta entre em uma queda de onde não mais poderá sair.<br />
Mas é importante ressaltar: o espaço (o mun<strong>do</strong>) ao qual Baudelaire se refere é<br />
um espaço em agonia, destituí<strong>do</strong> de toda a sua beleza natural como era pregada pelos<br />
românticos. Baudelaire, efetivamente, busca o não-natural enquanto espaço privilegia<strong>do</strong><br />
de expressão. Como o que forma o mun<strong>do</strong> é o homem, não há possibilidade de que<br />
exista uma natureza com uma beleza prévia em relação ao sentimento e ao espírito<br />
humano. Assim com não há possibilidade de que esse espírito não possa compreender o<br />
mun<strong>do</strong> que ele mesmo cria. O que se encontra, então, é uma dualidade entre o mun<strong>do</strong><br />
construí<strong>do</strong> pelo espírito e um mun<strong>do</strong> empírico, forma<strong>do</strong> a partir e pelo corpo social.<br />
Esse mun<strong>do</strong> social empírico não é forma<strong>do</strong> a partir de uma real intromissão <strong>do</strong> eu em si<br />
mesmo e no mun<strong>do</strong>, mas por forças externas oriundas da multidão que tenta anular a<br />
real potência da queda <strong>do</strong> poeta. O artista, então, percebe-se que é um desloca<strong>do</strong> no<br />
mun<strong>do</strong>, não no mun<strong>do</strong> real, mas no mun<strong>do</strong> cria<strong>do</strong> pelo outro. O poeta se percebe