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texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

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vontades, planificadas pela expectativa <strong>do</strong> homem médio, <strong>do</strong> burguês. O burguês é<br />

aquele ser médio, acomoda<strong>do</strong>, que não quer lutar, não quer se diferenciar. É a<br />

massa. A multidão. Sente-se bem no meio de imensos contingentes de seres que<br />

não se conhecem entre si, mas que querem se reconhecer enquanto iguais,<br />

enquanto pertencentes uns aos outros, enquanto pessoas que compartilham <strong>do</strong>s<br />

mesmos valores. Não aceitan<strong>do</strong> a multiplicidade, pois ela lhe é nociva. “A verdade<br />

é uma mentira que não se admite como mentira, ela nega o que a vida tem de mais<br />

rico: a multiplicidade” (PERRUSI In LINS, 2001, 173). A multidão explicita toda<br />

a sua incapacidade de ver o diferente, necessitan<strong>do</strong> se reconhecer no outro,<br />

precisan<strong>do</strong> que lhe mostrem um espelho. E essa imagem tem de ser, sempre, maior<br />

<strong>do</strong> que ela mesma. A imagem deve ser a visão daquilo que lhe é inatingível e,<br />

portanto, superior 35 . A multidão precisa <strong>do</strong> ópio da santidade, da finalidade, da<br />

redenção.<br />

Aos poucos, em No Hospício, esse horror à multidão vai desaparecen<strong>do</strong>.<br />

Fileto inicia o romance com um desprezo imenso em relação às massas. O ponto<br />

mais eleva<strong>do</strong> desse desgosto pelo social é da<strong>do</strong> no segun<strong>do</strong> caderno, quan<strong>do</strong> a<br />

multidão é vista como algo que impossibilita a formação plena <strong>do</strong> ser. Mas, pela<br />

posição <strong>do</strong> narra<strong>do</strong>r (“Não somos pessoa: somos porção inconsciente da grande<br />

consciencia” (POMBO, 1905, 72)) que terá grande influência sobre Fileto, esse<br />

acabará, quase ao final <strong>do</strong> romance, a desejar o seu retorno ao mun<strong>do</strong>, onde poderá<br />

atuar no projeto de modificação social proposto pelo narra<strong>do</strong>r, cujo objetivo era<br />

mudar o pensamento da sociedade, para que essa passasse a agir mais de acor<strong>do</strong><br />

com a <strong>do</strong>utrina de Jesus. Ao término <strong>do</strong> romance, Fileto, já desacredita<strong>do</strong> da<br />

possibilidade de voltar ao mun<strong>do</strong>, resigna-se e assume a postura de dar ao seu<br />

espírito o isolamento ao qual ele estava destina<strong>do</strong>. A arte burguesa somente fará<br />

repetir modelos que se encaixem no que é espera<strong>do</strong>. Assim foi o Romantismo, arte<br />

burguesa por excelência. Arte nacional. Arte urbana. Essa foi a grande questão que<br />

35 “— O que Goethe teria pensa<strong>do</strong> de Wagner? — Uma vez ele se perguntou acerca <strong>do</strong> perigo<br />

que ameaçava os românticos: a fatalidade romântica. Sua resposta: ‘sufocar com a ruminação<br />

de absur<strong>do</strong>s morais e religiosos’. Numa palavra: Parsifal — — O filósofo junta um epílogo:<br />

Santidade — talvez a última coisa que o povo e as mulheres ainda conseguem ver, <strong>do</strong>s valores<br />

mais altos; o horizonte <strong>do</strong> ideal para to<strong>do</strong>s os míopes por natureza. Para os filósofos, no<br />

entanto, uma espécie de portão fecha<strong>do</strong> onde o seu mun<strong>do</strong> apenas começa — o seu perigo, seu<br />

ideal, sua aspiração... Para dizê-lo de mo<strong>do</strong> mais cortês: La philosophie ne suffit pas au<br />

grande nombre. Il lui faut la sainteté [A filosofia não basta para a multidão. Ela necessita da<br />

santidade]”. (NIETZSCHE, F. O caso Wagner – Um problema para músicos & Nietzsche<br />

contra Wagner – Dossiê de um psicólogo. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 1999. 29.)

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